Confinamento favorece os ricos e prejudica os pobres
O confinamento, isolamento ou distanciamento social, sabe-se, não serve para combater o vírus. Objetiva achatar a curva, distanciar o momento do auge da epidemia, para que o sistema de saúde não entre em colapso. Enquanto a velocidade da contaminação é contida, os governos tentam se equipar para a chegada, inexorável, do pico.
Não se pode viver confinado indefinidamente. O vírus não será exterminado com o fim da quarentena. Ele só deixará de circular quando cerca de 60% da população o tiver contraído. Ou com vacina.
Neste momento, é um doença de ricos e poderosos. Ele entrou no Brasil em avião e circulou em carros de luxo. Mas o bicho vai pegar. Os pobres.
Neste momento, com a quarentena, os casos, que se restringem aos ricos e gente dos seus arredores, serão tratados adequadamente. Mas a quarentena dispara, de imediato, seus nocivos efeitos econômicos e sociais, aumentando a miséria e a fome, que nunca foram poucas no Brasil
Cerca de 40 milhões de brasileiros vivem na informalidade, ganham o pão do dia no mesmo dia em que trabalham. Não têm reservas financeiras, não têm o salário assegurado ao fim do mês. Ou trabalham, ou não têm o que comer. A diarista, o pedreiro, o flanelinha, o vendedor de bala, o desempregado… A insegurança alimentar, que já é uma realidade nas comunidade mais pobres, vai se agudizar.
Sem boa alimentação, nenhuma imunidade. Portanto, quando o vírus chegar aos pobres, os casos, que poderiam ser leves e sem necessidade de internamento, serão fatais. Ou morre de fome e inanição, ou, por subnutrido, com qualquer doença que possa ser agravada pelo SarsCov-2.
Na paralisação dos policiais, o Ceará registrou amento absurdo de homicídios. Chegou a mais de uma centena em apenas uma semana. Com menos de um quinto desse número vitimado pela Covid-19, a imprensa só fala de morte. No primeiro caso, tratava-se de pobres, de bandidos. Quem liga pra isso? Quando a morte atinge os ricos, a mídia se apavora e nos apavora.
Os ricos vão se safar. Os pobres, nem panela para bater. Vão ser amontoados, nas valas comuns, sem nome. El nombre del hombre es pueblo, que vai morrer de fome, de bala ou vírus.
Ainda me valho de Caetano: “É preciso estar atento e forte. Não temos tempo para temer a morte”.