Sobral: enquanto alguns caminhoneiros seguem trabalhando, outros param por falta de serviço e comida
O caminhoneiro Elessander Jair Paim (49) roda o Brasil todo despachando cargas. Nesta sexta-feira (3), ele passou por Sobral transportando 47 toneladas de argila com destino ao Recife (PE). Apesar da determinação, em alguns estados, de paralisação do transporte rodoviário, a empresa a qual o caminhoneiro é contratado não aderiu à orientação da categoria.
“Nós estamos rodando normalmente. Aqui, nós estamos em quatro caminhões, vindos de Fortaleza. Carregamos aqui em Sobral, abastecemos e estamos indo embora para Recife”, afirma o caminhoneiro.
Ainda segundo Elessander Paim, “a gente está vendo muitas dificuldades na estrada. Muitos caminhoneiros já estão pedindo auxílio à empresa; que tem doado cestas básicas. Muitas vezes, eu tenho feito a minha comida no caminhão. O que observei foi o aumento da quentinha. De R$ 10 subiu para R$ 15, em média”, revela.
José de Souza Filho (38), que também tem feito a comida no próprio caminhão, segue no mesmo grupo de caminhoneiros que rumam para Recife. Ele diz que a rotina na estrada não mudou muito, mas as medidas adotadas pelo patrão foram bem radicais. “Ele cortou os terceirizados e manteve a frota fixa rodando. Mais de mil caminhoneiros foram mandados embora. O patrão teve que fazer isso por necessidade do mercado. Ficamos em cerca de 650 caminhões. E vamos continuar, porque tudo está mais caro, e se a gente parar, vai faltar”, alerta, em meio a muitos caminhões agrupados nas proximidades do Posto da Polícia Rodoviária Federal, na BR-222, no sentido Sobral- Fortaleza.
No entorno de um posto de combustíveis, a situação é a mesma. “Cerca de 25 caminhões que transportam para a Grendene estão parados aqui. Sem carga para abastecer, ficaram encostados. Os motoristas foram embora. Cada um deu seu jeito para voltar para casa”, revela o frentista Claudemir Araújo.
Na loja de conveniência do lugar, que reabriu nessa segunda-feira, após 10 dias fechada, por causa da quarentena, o movimento ainda não foi retomado. “ Reabrimos, quando informaram sobre a liberação desse tipo de comércio. O movimento caiu pela metade, e continua fraco. Somos seis, e estamos em horário reduzido, revezando o trabalho”, explica a atendente, Tatiana Moura (34).
Em outro posto de gasolina, no sentido Sobral- Serra da Ibiapaba, o restaurante Jaburuna, que tem nos caminhoneiros sua maior clientela, está praticamente sem movimento. “Passamos duas semanas fechados. E reabrimos nessa segunda, mas a procura caiu mais de 80%. A situação está bem difícil. Eu não posso dispensar os funcionários. São 7 aqui, em todas as funções. Mesmo assim, só fecharemos novamente se houver outra determinação. Por aqui, já passaram caminhoneiros que disseram estar há três dias na estrada, sem comer nada”, afirma a proprietária do restaurante, Wanda Teixeira (40).