Empregados e pequenos empresários sofrem os efeitos do fechamento do Centro de Sobral
“Como é que a gente ganha o nosso trocado, se devemos ficar em casa? Eu entendo que todos os cuidados devem ser tomados, pois a doença realmente existe, e que as medidas adotadas são necessárias. Mas a gente fica apreensivo com esse fechamento geral do comércio; e as contas não param de chegar”.
O desabafo é do pequeno empresário sobralense, no ramo de emplacamentos, morador do Bairro Parque Silvana, Marcelo Pontes, 33. A mulher dele tem trabalhado de casa, desde o arrocho das medidas de contenção ao vírus adotadas pelo prefeito Ivo Gomes, na quinta-feira, dia 7, deste mês.
Tendo em vista a parada geral de certos serviços, inclusive, na área de atuação do empresário, Marcelo tem tentado driblar as dificuldades, e as medidas, para seguir trabalhando. “ Com essa parada geral, muitas vezes temos que tentar trabalhar praticamente escondido. Nesta semana, eu comprei um material, em Sobral, e tive de receber a encomenda, em casa, por volta das 23h, por que não tinha como ter o serviço mais cedo”, relata e complementa. “Tudo isso é muito desesperador”.
Foi por meio do Decreto n° 2.418, que o prefeito Ivo Gomes estabeleceu a intensificação das medidas de distanciamento social em Sobral. O documento, que prevê, entre outras medidas, o controle da entrada e saída de veículos em todo o município, também estabelece novos horários de funcionamento de bancos e uma parcela do comércio.
Oficinas e concessionárias, por exemplo, podem funcionar de 13h às 18h. Lojas de vendas de peças automotivas funcionam, exclusivamente, por entrega em domicílio, já o serviço de “drive thru”, de produtos não essenciais, fica proibido. O Mercado Público permanecerá suspenso até o dia 17 de maio, quando se prevê o fim da nova determinação.
Também impedido de trabalhar integralmente, João Batista Regino (50), que lida com o conserto de ar-condicionado, se emociona ao falar da situação dele. A demanda pelo serviço teve queda de 70%, diz o homem. “Eu já estou passando dificuldades com a minha família. Dei entrada no auxílio emergencial, mas nunca foi liberado. Eu tenho uma filha de 8 anos, e não sei mais o que fazer para mudar essa situação. Tem dia que eu me estresso. As portas do meu trabalho estão lacradas. Aí eu penso: vou levar o quê para casa hoje? Pergunta, com os olhos cheios de lágrimas.
“Ainda, no início, o patrão deu cestas básicas para os empregados, mas o tempo foi passando, as coisas foram ficando mais apertadas, mais difíceis para todos nós”, revela seu Regino. “Agora, o jeito é tentar um bico aqui outro acolá, e rezar para conseguir algum trocado. No começo da quarentena, eu já fui impedido de trabalhar, até por um policial, que ameaçou me levar preso. Eu entendo toda essa situação, mas foi muito humilhante ser proibido de fazer a única coisa que faço na vida para sobreviver”, lamenta.
Com o fechamento, por meio de grades e cones, o Centro da Cidade segue quase deserto. Uma imagem de chamar a atenção, mas que, de uma forma ou de outra, faz parte da realidade das pequenas cidades e dos grandes centros mundo afora. Aqui, ainda é possível ver pessoas tentando acesso à Caixa Econômica Federal (agência da Rua Cel. José Sabóia), sentadas em cadeiras colocadas sob uma tenda, disponibilizada pela Prefeitura, para minimizar o sacrifício de se expor ao sol intenso da região.
Além dos bancos, no centro comercial, as farmácias também têm direito a abrir suas portas ao público. Numa delas, entre as ruas Floriano Peixoto e Joaquim Ribeiro, não há movimento algum; apenas a presença de dois funcionários. “ Não tem compensado abrir nessas condições. O faturamento caiu de cerca de R$ 1.200, por dia, para algo em torno de R$ 50”, revela Joicymara Carneiro, caixa da farmácia. E a funcionária finaliza. “O dono vai, até, realizar uma reunião para saber se fecharemos de vez, porque o custo de manter a farmácia aberta é alto”.