O sonho de Ciro é alimentado por cadáveres

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O prefeito sobralense Ivo Gomes já está sendo chamado de Coveiro da Covid. Não apenas pelo alto número de mortes (a segunda cidade cearense com mais óbitos), mas também por sua obstinação em ocultar o número de recuperados, dando ênfase na mortandade, talvez com o intuito de meter medo na população, que sofre com tantos bloqueios e barricadas em ruas e bairros.

Mas quem intenta tomar para si o triste epíteto no cenário nacional é o irmão maior. Se não de coveiro, o discurso de Ciro é o da hiena que se alimenta de carniça. Mais um ato dessa peça em que Ciro é protagonista foi ao palco na vexaminosa entrevista que ele concedeu à Folha de S. Paulo, edição da última sexta-feira (12/6). Ele manifesta sem qualquer pejo seu oportunismo, ao se postar contra os protestos de agora para atingir Bolsonaro. Ele aponta para setembro, quando terá mais volume o “saldo de cadáveres” – além da implosão da economia –, a batalha nas ruas para derrubar Bolsonaro.

Desde antes de o presidente assumir o mandato, levantou-se a voz agourenta a grasnar feito abutre repetidamente: “não chega ao fim do mandato”. Ciro já usou de seu partido, o PDT, para dar entrada no pedido de impeachment. Segundo ele, “as condições jurídicas estão dadas”. E quais seriam os crimes de responsabilidades? No entender do jurista sobralense de Pindamonhangaba, sócio do escritório de Advocacia Xerez Saldanha Vasconcelos e Ciro Gomes Advogados Associados, Bolsonaro os comete “quando atenta contra o regular funcionamento das instituições, confronta a autonomia da federação, aparelha órgãos públicos”.

Que coisa, né, Ciro Gomes? Se Bolsonaro fez isso tudo, tudo isso foi feito – e em maior grau – pelos governos petistas a quem você serviu e jamais aventou a hipótese de impeachment de Lula ou Dilma. Ao contrário: “Foi golpe!” Você sabia de tudo, do mensalão ao petrolão. Não é ofensa muito maior comprar o parlamento com propina? Isso, sim, é derrocar a democracia. “Sei como ninguém que Lula não é inocente”, afirmou Ciro, agora que nem Lula nem PT lhe servem mais.

Em outra entrevista, numa live, o mui democrata Ciro afirmou que o médio mano, senador da República, investiu com uma retroescavadeira contra policiais “porque não deu tempo da gente arranjar uma metralhadora”. O irmão metralha também se apropria da linguagem vagabunda em suas bravatas: “a gente organiza ali a rapaziada da periferia para resolver essa parada”.

Pois bem, mesmo no momento em que os que se julgam 70% (foi a Dilma quem fez a conta?) tentam fazer um movimento, juntando todos os inimigos da democracia para lutar em prol da dita cuja, Ciro disse que não é para agora. Está à espera de cadáveres o político necrófago. Ele disse com todas as letras. “Ali por setembro vamos precisar de todo mundo na rua. Agora, precisa fazer o isolamento”. O discurso do isolamento é para aprofundar a crise econômica, pois ele acredita e torce pelo aumento do número de mortes: “Estou vendo um cenário de distopia ali por setembro com uma mistura do SALDO DE CADÁVERES e da implosão da economia”.

Na mesma semana das aparições de Ciro, o irmão menor, que comanda Sobral, disse que, graças às suas ações, a cidade apresenta números melhores do que os Ceará e os Brasil. Só se for o do quando pior, melhor. A postagem em que se pabulou é datada de quinta-feira (11/6). Neste dia, Sobral figurava em primeiro lugar no número de infectados pelo coronavírus e o segundo em mortes provocadas pela covid-19. Os dados podem ser checados no Integrasus, plataforma do governo do Estado.

O discurso de Ciro sempre foi o de salvador da pátria e é modulado de acordo com o alvo de suas diatribes e oportunismo político. Para que isso aconteça, a pátria tem que precisar de um salvador. Isto é, ele espera um caos para se apresentar como o tal. A necrofagia como método político. O sonho de Ciro chegar à presidência é alimentado por cadáveres.

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