Roberto Cláudio vai depor na CPI da Pandemia
Por obra e graça do senador Eduardo Girão (Podemos), o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio entrou no radar da CPI do Covidão, no Senado Federal. O senador cearense deu entrada com requerimento para a comissão convocar tanto Roberto Cláudio, quanto sua então secretária de Saúde, além do atual secretário estadual Cabeto Martins Rodrigues.
A Prefeitura de Fortaleza foi alvo de duas operações policiais, no ano passado, deflagradas pela Polícia Federal, em conjunto com a Controladoria Geral da República, para apurar indícios de irregularidades com recursos públicos federais destinados ao combate do coronavírus.
A operação Cartão Vermelho tinha como foco o hospital de campanha construído às pressas no estádio Presidente Vargas, que suscitou polêmicas desde o início. Uma das críticas alertava para o fato de existir hospitais inativos, como o Batista e o dos Acidentados, já com estrutura pronta. A outra, o custo exorbitante de sua manutenção, além das denúncias de superfaturamento em compras sem licitação.
Já a Operação Dispneia investigou escândalo da compra superfaturada de respiradores de uma empresa inidônea, cuja atividade comercial não era venda de respiradores. Segundo os investigadores, a Prefeitura tinha ciência de que a empresa não tinha condições de entregar o produto, como, de fato, aconteceu.
Com a assinatura do então prefeito Roberto Cláudio, a compra foi realizada com preço quatro vezes maior que a média pesquisada, em torno de 60 mil reais a unidade. O governo do Estado já tinha comprado com quase o dobro do preço (117 mil), e a Prefeitura aloprou, quadruplicando o preço: R$ 234 mil.
O mais grave: com pagamento adiantado. Foi-se a montanha de dinheiro sem a vinda de nenhum respirador. Nem sequer um para indez. Foi feito o destrato, a Justiça autorizou o bloqueio das contas da empresa, mas não deu em nada. Ficaram com nosso dinheiro, e nós ficamos sem respirar.
O mais curioso foi a demolição, em setembro do ano passado, do hospital de campanha, que custou tanto dinheiro. Apesar do alerta de cientistas do mundo inteiro de que haveria uma segunda onda, o médico que dirigia Fortaleza autorizou o desmonte. Negou as evidências científicas. A maior prova é que, sem o hospital destruído, Camilo Santana se viu obrigado a usar o hospital particular Leonardo da Vince, que acabou sendo desapropriado.
Apesar desses escândalos retumbantes, os senadores Cid Gomes (PDT) e Tasso Jereissati (PSDB) entenderam que não deveriam ser investigados. Se isso acontecer, será sob os auspícios de Eduardo Girão. O requerimento será apreciado pelo colegiado, certamente com o voto contrário de Jereissati.
Na época dos escândalos, o vereador Julierme Sena tentou instalar uma CPI na Câmara Municipal. Foi fácil o então prefeito se safar. Na CPI do Senado, vai precisar de padrinhos poderoso para conseguir êxito.