Executivo da Pfizer confirma versão do governo Bolsonaro

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Para a oposição, que quer fazer palanque político com as questões da pandemia, foi um verdadeiro anticlímax a participação de Carlos Murillo, executivo da Pfizer para a América Latina, nesta quinta-feira (13/5), na CPI da Covid. Apesar das tentativas em contrário, o executivo corroborou todas as versões apresentadas pelo governo para não fechar o contrato com a farmacêutica logo em sua primeira proposta: 1) cláusulas abusivas, 2)exigência legal, 3) sem transferência tecnológica.

Sem aceitar a adjetivação, Carlos Murillo confirmou as cláusulas, chamadas pelo governo brasileiro de leoninas. Disse apenas que são as mesmas exigidas para a venda do imunizante em mais de 100 países. Isto é, são cláusulas abusivas para todos. A mais escandalosa é a que exige isenção total de culpa por qualquer efeito adverso de seu produto. Além do mais, todo e qualquer problema judicial teria que ser resolvido em solo americano. Seria usurpar a soberania brasileira. Além do mais, não aceitou a transferência tecnológica.

Ao contrário do que afirmou o executivo da Pfizer na CPI, essas cláusulas leoninas não são para todos. Uma série de reportagem do The Bureau of Investigative Journalism, em parceria com as agências Stat e Ojo Publico, acusa a farmacêutica de fazer bullying com países da América Latina, como Argentina e Brasil. A matéria também cita África do Sul. Para garantia do pagamento ou de futuras indenizações, exige-se que os países pobres empenhem prédios de embaixada e até bases militares no exterior. Obviamente, não exigiu isso nem nos Estados Unidos, nem em Israel.

Reportagem do Birô de Jornalismo Investigativo diz que a Pfizer faz bullying com países pobres.

O produto da Pfizer é dos mais avançados em tecnologia. A empresa investiu muito em inovação tecnológica e não queria correr riscos na sua empreitada comercial. Não está interessada exatamente em salvar vidas, mas em lucrar com a crise. É legítimo, mas no sistema capitalista, que coloca o lucro em um altar, o risco faz parte dos empreendimentos. A Pfizer sonha o melhor dos mundos para si: lucrar sem o mínimo de risco, que seria assumido pelos países, que tenderiam a aceitar suas cláusulas diante da tragédia humanitária da covid.

A empresa, diferente das demais que assinaram contrato com o Brasil, não aceita a transferência de tecnologia nem terceiriza a produção. Tudo tem que ser produzido no laboratório parceiro alemão BioNtech. Se permitisse, por exemplo, que os laboratórios indianos produzissem o imunizante, haveria muito mais vacinas disponíveis no mundo, que passa por um período de apagão, depois que nova cepa passou a devastar a Índia. A OMS coordena um consórcio de vacinas para ajudar países pobres. A menos comprometida com o projeto é a mais poderosa.

O representante da Pfizer também confirmou que esteve reunido com o governo brasileiro para discutir a edição de uma MP, um decreto ou um projeto de lei, que desse garantia jurídica ao contrato. Outra exigência. O que de fato aconteceu, com aprovação em março de uma lei oriunda do Senado, de autoria do presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco. Só a partir daí, o governo estaria habilitado a fechar o contrato com a assunção de todas as responsabilidades e riscos com a administração da vacina.

A oposição, e o senador gasguita, que é vice-presidente da CPI, Rodolfe Rodrigues, apressou-se a dizer em suas redes sociais que o governo teria evitado mortes se tivesse contratado a Pfizer logo na sua primeira proposta. O Fala Fina só queria tripudiar e usar politicamente a tragédia que atinge milhões de pessoas, no Brasil e fora dele. Vamos analisar com uma pequena linha de tempo, e ficará claro que nenhuma morte teria sido evitada por causa do imunizante americano.

Vamos supor que o Brasil tivesse assinado em 14 de agosto, primeira proposta, para comprar 70 milhões de doses. Vamos admitir também que pudesse passar por cima da exigência legal, e que o laboratório não atrasasse as entregas, como está ocorrendo mundo afora. Estão deixando de fora (propositadamente?) um fator crucial: a data da aprovação da Anvisa, que se deu no dia 23 de fevereiro. Só a partir desta data, haveria condições legais e sanitárias para a aplicação da vacina. Quer dizer: aquelas 500 mil doses que chegariam em dezembro, mais 1,5 milhão em janeiro, só poderiam ter sido aplicadas do dia 24 de fevereiro em diante.

Vamos admitir a que a Pfizer, ao contrário do que está fazendo atualmente, antecipasse a entrega, e contássemos com todo o volume prometido para o primeiro semestre. Uma força-tarefa descomunal conseguisse aplicar todas as vacinas num só dia. Precisamos levar em conta mais duas informações. A imunização completa (que nenhuma vacina garante) só se dá após a segunda dose. E a segunda dose da Pfizer é aplicada três meses depois da primeira. Então, os que foram vacinados no primeiro dia de liberação da vacina só receberão a segunda dose em 24 de maio (daqui a 10 dias). Outro fator: ainda leva um tempo para alcançar a imunização depois de receber a picada.

Sem deslembrar que houve morte mesmo para quem tomou as duas doses. Mas vamos admitir que isso não ocorra com a Pfizer. Mesmo assim, tendo em vista os prazos e a linha de tempo apresentada, nenhuma morte teria sido evitada com a vacinação da Pfizer. Mas a oposição vai se posicionar em cima de uma pilha de cadáveres para dizer o contrário.

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