A médica e os monstros

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A cearense Mayra Pinheiro, médica pediátrica, deu um show de elegância, competência e simpatia num ambiente que costuma ser o show dos horrores. Respondeu tecnicamente, sem deixar nenhuma pergunta em aberto. A contrário, ela era tão convincente e assertiva, que os senadores já não queriam ouvir suas respostas.


Cada um tinha um discursozinho preparado, um script a seguir, como atores de baixa categoria, em busca de holofote para suas vaidadezinhas. Não querem esclarecimento, nem mesmo se importam com a resposta. Anteciparam o julgamento e a condenação. E já nem se dão ao trabalho de disfarçar. É só desfacatez.

Outro dia, a senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) fez perguntas ao general Pazuello. Quando o presidente da CPI passou a palavra ao general, ouviu o disparate: “Posso usar o tempo dele, para falar um pouco mais? Na verdade, não me interessa a resposta”. Ontem o furibundo senador petista Rogério Carvalho (SE) disse também que não queria nem saber da resposta da dra. Mayra. Canalha.

A competente cearense aproveitou a tentativa de Tasso Jereissati para desmascarar falácias do médico Otto Alencar (PSD-BA). Tasso passou a palavra para o senador baiano que tinha encurralado Pazuello, usando o discurso de autoridade para refutar a afirmação do ex-ministro de que a cloroquina seria antiviral.

Ao tentar repetir a performance, Mayra desmontou o velho coronel do cacau: “É antiparasitário, mas tem efeito antiviral comprovado em estudo e está em protocolo do Ministério da Saúde desde 2005”. Ele insistiu que o protocolo não era para a covid. E nem poderia, claro. É uma doença nova, ainda em estudo.

Flagrado na ignorância, ele partiu para truques retóricos, perguntando se havia remédio para evitar doenças como sarampo, paralisia. “Como foram inventar que a cloroquina evita o coronavírus?” Ele é que inventou isso. Pois a médica, nem ninguém, jamais a prescreveu como preventivo. A vacina é para evitar. A cloroquina é para tratar quem se contaminou e não para evitar a contaminação. Simples assim.

O melhor foi o troco que deu para a usual truculência de Humberto Costa (PT-PE), o homem que inventou o muro que separa Brasil do México. O drácula na planilha das propinas da Odebrecht, e envolvido na Máfia das Ambulâncias, no tempo em que foi ministro da Saúde, depois de um amontoado de lorotas, se saiu com esta: “Você nunca pensou em pegar um monte de médico, colocar num avião e levar para Manaus”. E ela, serenamente: “Sim, sim, já fizemos, levamos 347 profissionais, houve até uma homenagem da Gol”. Viu-se um Costa mais triste do que vampiro quando lhe aproximam alho, crucifixo, ou a luz do sol.

Brilhou a luz de Mayra Pinheiro, iluminando um antro de grosseiros e machões que, no intuito de atingir o governo, não tem escrúpulos em agredir uma mulher. Que não tem nada de indefesa, embora contasse com o talento de Djalma Pinto como escudo.

O senador gasguita do Amapá ainda tentou uma pegadinha. Acho que o Fala Fina queria ouvir a palavra pênis na voz de nossa querida Mayra, num áudio antigo, vazado de uma conversa com amigo, sobre manifestações políticas dentro da FioCruz. Ia nem fala disso, mas já que fez sucesso.

Sabe aquela história de mulher empoderada? Tava ali uma. Sem nada contra nossa Mayra, só lhe restam tentar desmerecer seu robusto currículo com o epíteto de capitã cloroquina. Pra mim, é general.

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