Olha a cepa aí da Copa América
O assunto é futebol e assume a literalidade das disputas. Todo tema no Brasil passou a ser tratado como um Fla-Flu, principalmente quando envolve alguma iniciativa do presidente Bolsonaro. O país convive muito bem com os campeonatos nacionais, como foram os estaduais e está sendo o Brasileirão, e até as competições internacionais, como a Sul-Americana, Libertadores e também as Eliminatórias da Copa do Mundo. Mas a Copa América não pode. Afinal, a decisão de sediar a competição foi de Bolsonaro. E, crime maior, não terá transmissão da Globo, mas do SBT.
O Brasil, que já encantou o mundo com a arte de seu futebol, foi se acostumando com a burocracia em campo e já se compraz até com as enervantes decisões fora das quatro linhas, como a arbitragem do VAR e até o resultado obtido no tapetão. É o que está prestes a acontecer. O Supremo Tribunal Federal marcou para esta quinta-feira, numa urgência jamais vista, sessão extraordinária para decidir se barra a realização da Copa América. Esse povo não tem mesmo o que fazer?
É mais uma ação de partido político contra uma iniciativa do governo. O STF tem se transformado num valhacouto de derrotados. Sempre que um partido político perde pelo voto na arena política, corre ao STF para fazer da derrota uma vitória. É como se um time de pernas de pau, ao perder no campo, apelasse ao tapetão dos togados sinistros para se consagrar vitorioso.
A Justiça brasileira, que levou mais de 20 anos para decidir que o campeão brasileiro de 1987 foi o Sport, de Pernambuco, e não o Flamengo, quer decidir, numa sessão virtual de um só dia, o destino da Copa América, prevista para começar três dias depois. A senhora relatora, Carmen Lúcia, sensibilizou-se com a argumentação. Será que ela acha que a Copa América vai aumentar o número de casos do coronavírus, mesmo com a obediência de todos os protocolos? Pode isso, Arnaldo? No STF, nenhuma regra é clara. Logo, pode tudo.
A grita começou na CPI de todas as coisas. A comissão que era para investigar as ações e omissões do governo federal, assim como o desvio de recursos de governadores e prefeitos na pandemia, sofreu mais mutação do que vírus. Com variadas cepas. Olha a cepa aí da cloroquina, a cepa aí do tratamento precoce, a cepa aí do gabinete paralelo. A cepa mais recente é a da Copa América. O relator Renan Calheiros chegou a fazer uma apelo a Neymar. Não sei se por isso, os jogadores resolveram ensaiar um protesto. Sobrou para o técnico Tite que sofreu forte reação no contra-ataque. Mas como treino é treino, e jogo é jogo, os atletas milionários resolveram cumprir o seu ofício.
A Cepa aí da Covid experimenta vários vírus para fugir do principal. Ninguém quer investigar os desvios de recursos destinados ao combate à pandemia, com fortes indícios de corrupção incluindo operações da Polícia Federal e do Ministério Público. Até o senador Tasso Jereissati acha que essa não é a prioridade. Claro, o objetivo é outro: infectar Bolsonaro. Se não levá-lo a óbito, pelo menos intubá-lo e fazê-lo sofrer as sequelas da enfermidade. A não ser que essa cepa aí não passe de uma gripezinha.
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