Camilo, o guardador de vacinas

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Não há uma única justificativa técnica razoável que defenda a decisão do Governo do Estado de ter em estoque mais de um milhão de vacinas. Vacina é no braço, e não na geladeira. Segundo o vacinômetro, informação pública disponível na Secretaria da Saúde do Estado, neste sábado, mas com números ainda do dia 10, o Governo Federal enviou 4.250.538 doses, mas foram aplicadas apenas 3.162.590. O estoque se manteve superior a um milhão de doses, em média, pelo menos nas duas últimas semanas.

O governo cearense tem dito que há duas causas, ambas injustificáveis: 1) reserva técnica; 2) garantir a segunda dose. Ora, toda vacina é para ser aplicada de imediato, o que já derruba a tese da reserva. Reserva técnica, assim como o racionamento, é para evitar desabastecimento. E o que se quer é o contrário, que tudo seja consumido. Quanto à guarda de imunizante para garantir a segunda dose, é tão desnecessária quanto contraproducente. O próprio Ministério da Saúde já orientou para não fazer estoque. A lógica é primária. É melhor ter número maior de vacinados do que garantir a segunda dose para uma quantidade menor.

A segunda dose é tão importante quanto a primeira. No entanto, a própria secretaria da saúde informou redução drástica de mortes e internações de idosos, mesmo com a aplicação de apenas uma dose. Conclusão óbvia: devemos vacinar todos o mais rápido possível. Mesmo se houvesse o risco de faltar a segunda dose, teríamos garantido a redução de mortes e evolução para casos graves em um número superior a um milhão de pessoas.

Jamais houve risco de falta de vacina, a despeito de informações desencontradas sobre a falta de insumo chinês, que atrasou em uma semana, sem maiores consequências. Logo depois, esse processo continuou sem redução drástica, e outras vacinas, como a Pfizer começaram a chegar ao Brasil, o que torna ainda mais monstruosa a falta de habilidade, competência ou sensibilidade de quem coordena o programa de vacinação no Estado. Vacina no braço, e não na geladeira. Alguém tem que acordar o governador, pois ele vive se gabando de que está atrás de uma vacina que vem da Rússia, a polêmica Sputnik, e não aplica as que já chegaram ao Ceará.

Outra estranheza macula o universo das vacinas no Ceará. Está prestes a chegar a vacina da Johnson & Johson, a única que promete imunidade com apenas uma dose. Mas a vacina chega já com o prazo de validade perto de vencer. Prevista para aterrissar no Brasil na próxima terça-feira (15/6), qual seria a melhor estratégia? Deixo a sugestão: mutirão para vacinar todos que tivessem condição de ir até os postos de vacinação, sem nenhuma outra condição prioritária. Mas o Ceará faz o contrário.

O comitê já decidiu que vai enviar para os 184 municípios, quando o ideal seria distribuir onde houvesse maior densidade populacional e não implicasse maiores recursos de logística. Isto é, em Fortaleza, região metropolitana e, talvez, algumas cidades grandes do interior. A maior estranheza é a restrição do público que terá direito ao imunizante da Johnson: apenas a faixa etária de 30 a 44 anos. Para uma vacina que perde validade em menos de 15 dias (27 de junho) a decisão de enviar para os 184 municípios e restringir a faixa etária certamente vai ocasionar perda de grande quantidade das mais de 120 mil doses a que o Ceará tem direito.

Não é possível que o governador Camilo Santana esteja guardando vacina em estoque e dificultando a vacinação do imunizante de dose única com o objetivo de assegurar “mercado” para as 5 milhões de dose de Sputnik V, que ele já comprou. Imagina se a tão publicizada compra de vacina não surtir mais efeito para sua imagem? Deixar de aplicar vacinas que já foram aprovadas pela Anvisa e já em estoque e ainda querer aplicar nos cearenses o imunizante russo, com várias restrições??? Impensável, Camilo não faria. Isso é coisa de genocida.

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