Ninguém quer Camilo no Senado

FORTALEZA, CEARA 13.09.2018 EXCLUSIVO POLITICA - CAMILO SANTANA / ELEICAO 2018 - Governador do Estado do Ceara, Camilo Santana (PT- CE), durante entrevista no escritorio da Residencia Oficial do Governo, no bairro Aldeota, em Fortaleza. FOTO JARBAS OLIVEIRA/ESTADAO
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A ressurreição política do ex-presidiário Luis Inácio, operada miraculosamente pelo STF (Santíssimo Tribunal Federal) abalou profundamente os planos da oligarquia Ferreira Gomes. Tanto para manter seu poder no Estado quanto para a sonhada candidatura de Ciro Gomes. Lula sempre foi o algoz do sobralense, depenando-lhe as asas todas as vezes em que estava prestes a alçar voo.

O perigo que sobrevoa o campanário da paróquia é uma possível independência de Camilo Santana. Se não uma ruptura, pode deixar de contar com apoio decisivo do governador, que está sendo flertado publicamente pelo persona maior do petismo. Lula tenta tirar Camilo do colo de seus padrinhos locais. Ciro abriu fogo cerrado contra o lulo-petismo, sem previsão de armistício, seguindo estratégia de João Santana para tentar ir ao segundo turno.

Camilo Santana, que sempre se equilibrou entre os dois senhores, está confuso sobre a quem servir. E vai ter que superar o dilema. Ele acaba de anunciar sua disposição de disputar uma cadeira do Senado para se manter no poder quando sair do Abolição, mas todos o querem agrilhoado lá até o fim do governo. Ele vai se prestar a essa imolação política?

Para concorrer nas próximas eleições, Camilo teria que sair do governo seis meses antes das eleições, abrindo mão de uma parte de seu mandato. Por motivos diferentes, tanto o clã Ferreira Gomes como Lula tentam dissuadi-lo. Os Gomes querem-no no poder para guardar a vaga do Senado para Tasso Jereissati. Já o presidente Lula quer Camilo com a caneta na mão para apoiar seu desejo de voltar ao Planalto.

Sempre ao lado dos Ferreira Gomes, mesmo durante embates com seu próprio partido, Camilo sonhava em contar com o apoio dos padrinhos. A gratidão é virtude rara entre os políticos, ainda mais em relação aos Gomes. Que o digam os antigos aliados, como Luizianne, o próprio Tasso, Eunício Oliveira, entre outros, que foram simplesmente tratorados quando se colocaram em confronto com os interesses oligárquicos.

Tasso Jereissati, que se reconciliou com o grupo depois de escanteado na primeira derrota eleitoral, deve ser o ungido com a vaga ao Senado. Não por causa de seus verdes olhos, mas por servir aos interesses de Ciro rumo ao Planalto. Com pouco espaço à esquerda, o ex-ministro espera contar com apoio dos tucanos, menos infensos aos encantos lulistas. Tasso é operador dessa articulação. Ensaia sua própria candidatura, mas o intento é assegurar a vice para um correligionário, talvez do Sul.

Do lado petista, Camilo fora do governo seria apenas mais um candidato, perdendo força de apoiador e influência na sua sucessão. Na fila de candidatos ao governo, ninguém de seu grupo, todos da facção sobralense: Izolda Cela, que iria para reeleição em caso de renúncia do titular, o ex-prefeito Roberto Cláudio, se se livrar das operações da PF, ou o caçula Ivo Gomes, cujo cacife se esmaeceu por não ter conseguido a esperada votação retumbante contra seu opositor, Dr Oscar Rodrigues (MDB), um neófito nas disputas eleitorais.

En passant, diga-se que o nome do chanceler do Uninta já foi lembrado como possível candidato ao governo, exatamente pela performance expressiva dentro da cidadela dos Ferreira Gomes. Dr. Oscar Rodrigues se tornou líder político por simbolizar a mais forte e aguerrida oposição aos Ferreira Gomes na sua própria terra.

Voltando a Camilo, mesmo o argumento de que poderia coletar votos para arregimentar uma boa bancada na Câmara do Deputados para seu partido é deixado de lado. O objetivo maior é eleger Lula. Para conquistar apoio no Congresso, ele já tem expertise.

O que ganharia Camilo, ficando no governo, empenhando seu esforço, seja para eleger Lula, seja para fazer seu sucessor, correndo risco de, passadas as eleições, voltar ao limbo político? Se Lula ganhar, certamente um ministério como recompensa. Caso contrário, e vencendo o pleito estadual, teria um prêmio dos pedetistas por sua dedicação?

Por enquanto, permanece o dilema. Vai se sacrificar em nome da rosa ou pode seguir sua estrela, o seu brinquedo de star? Deve balançar sua mente outro trecho da canção de Cazuza: “O teu futuro é duvidoso, eu vejo grana, eu vejo dor, no paraíso perigoso…

Me avise quando for a hora.

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