O escândalo da corrupção Porcina

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Depois de um período de governos que protagonizaram uma profusão de escândalos de corrupção, abateu-se sobre o mundo político e midiático forte crise de abstinência em relação a uma gestão de dois anos e meio sem nenhum caso. Para os seres dessas duas bolhas – política e imprensa – é inimaginável não haver irregularidade, principalmente quando há vultosas somas envolvidas. E então inventaram a corrupção porcina, a que foi sem numa ter sido.

Uma das mais célebres personagens da dramaturgia brasileira foi a Viúva Porcina, protagonista da novela Roque Santeiro, em parceria com Sinhozinho Malta. A dupla era encarnada por Regina Duarte e Lima Duarte, numa das melhores telenovelas nacionais, escrita por Dias Gomes e Aguinaldo Silva. Porcina era viúva de Roque Santeiro, sem nunca ter se casado com ele. Era viúva sem nunca ter sido. Esse roteiro, que foi protagonizado por uma constelação de estrelas dos tempos áureos da Globo é reencenado na CPI pelo G7 – a Gangue dos Sete.

A denúncia de corrupção na compra da vacina indiana Covaxin é tão falsa quanto o moralismo de Renan Carneiro, a honestidade de Omar Aziz e a intelectualidade do senador do Amapá e vice-presidente da CPI, Faniquito Rodrigues. O primeiro ato da peça teatral tinha como enredo o sobrepreço (1000 %), uma versão aloprada veiculada no Estadão. Era apenas um erro no documento (um zero a menos). Provado que não houve sobrepreço nem muito menos superfaturamento, pois o valor era tabelado e semelhante ao que foi vendido a outros países, desceram a cortina, e passaram ao próximo ato.

Toda narrativa se baseia na palavra de um deputado dedo-duro, cuja vida pregressa aponta sucesso mentindo para incautos em esquema de pirâmide financeira

No intervalo, falemos dos personagens que apresentaram a denúncia. Um servidor do Ministério da Saúde, Ricardo Miranda, e seu irmão, deputado Luís Miranda, do PSL, base do governo. Segundo a imprensa, ele contava com a relatoria do projeto de Reforma Tributária, prometido pelo presidente da Casa, Artur Lira (PP). Foi preterido. Reportagem do Fantástico informou que ele enganou dezenas de pessoas com promessas de fácil enriquecimento, num caso conhecido como pirâmide financeira. Nestes casos, os incautos parecem querer ser enganados. Expert em enganar os que desejam ser enganados, o depoimento da CPI era o melhor palco para sua performance.

O senador dos chiliques disse em outras ocasiões que o governo errou em retardar o contrato, mesmo com todas as exigências da Pfizer. E agora acusa o governo por tentar agilizar. Isto é, não interessa o que se faça, será sempre criticado e cobrado por uma coisa ou seu oposto. O servidor disse ter recebido pressão atípica para agilizar o processo, não para fazer nada errado. O argumento de quem o pressionava era de que havia muitos brasileiros morrendo por falta de vacina. Note que, neste período, o governo já tinha contratado as vacinas do Butantan, da FioCruz, da Pfizer, da Jansen, da Sputnik. Mesmo assim, havia escassez de imunizante.

Randolph Rodrigues (Rede–AP), o senador Faniquito, chegou a dizer que estávamos diante do maior escândalo de corrupção, por envolver cerca de 1,6 bilhão de reais. Só que não. Não houve desembolso de um centavo sequer, ninguém recebeu qualquer pixuleco. E foram corrigidos todos os erros registrados nos documentos da empresa que intermediava o negócio. Em resposta ao relator, Ricardo Miranda afirmou que não houve qualquer pressão para que fosse aceito o documento com as falhas. Ao contrário, foram superadas. Onde há corrupção, então?

O presidente Bolsonaro, a quem acusam de não querer vacina, já tinha determinado que o governo brasileiro iria comprar todas as vacinas que aparecessem desde que com o aval da Anvisa. A da Covaxim, assim como da Sputnik, foram contratadas nessa condição. E só agora foram aprovadas pela agência sanitária. Até hoje, não chegou nenhuma dose da vacina indiana, nem algum pagamento foi efetuado. Se havia um rebento de corrupção, foi abortado.

Mas não é só a crise de abstinência o grande mal da imprensa e da política. Há também a Síndrome de Estocolmo. Personagens como Renan Calheiros que já foi capa de revista e manchete de jornais impressos e eletrônicos como protagonista de escândalos de corrupção, campeão em inquéritos no STF e mais um leque de processos na Justiça por roubalheiras, virou o queridinho dessa mesma imprensa. Luiz Miranda, o estelionatário que lesou milhares, vira estrela do noticioso como paladino da moralidade.

Parece que quem encarna melhor a Porcina é a imprensa, que se quer mostrar honesta sem nunca ter sido.

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