USP concede, pela 1ª vez, título de Doutor Honoris Causa a um brasileiro negro

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Poeta, jornalista e advogado, Gama articulou pela libertação de mais de 500 escravizados.

A Universidade de São Paulo (USP) concedeu nesta terça-feira (29) o primeiro título de Doutor Honoris Causa a um brasileiro negro desde sua criação para o abolicionista Luiz Gama, poeta, jornalista e advogado do século 19. O título foi proposto pela Congregação da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e aprovado por unanimidade, em reunião virtual, pelo Conselho Universitário da USP.

Antes dele, a universidade tinha concedido o título a um homem negro apenas uma outra vez, em 2000, quando foi homenageado Nelson Mandela, político e ativista da África do Sul. Além de Mandela, Luiz Gama é o único outro negro na lista de 120 homenagens deste tipo feitas pela universidade.

Um dos principais ativistas pela abolição da escravidão no país, Gama foi responsável pela libertação de pelo menos 500 escravos. Nascido em Salvador, em 1830, filho de uma escrava liberta com um descendente de portugueses, ele foi vendido como escravo pelo próprio pai quando tinha apenas 10 anos.

Mandado para São Paulo, Luiz Gama conseguiu sua alforria antes dos 18 anos e frequentou como ouvinte as aulas da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, que atualmente faz parte da USP, mesmo após ter sido proibido de realizar seus estudos na instituição.

Além de ter utilizado seus conhecimentos jurídicos para, através da lei que extinguiu o tráfico negreiro, libertar gratuitamente pessoas escravizadas em várias províncias, Luiz Gama também foi poeta e escritor. Apenas 12 anos depois de ter aprendido a ler, ele publicou, em 1859, seu único livro, Primeiras Trovas Burlescas.

Gama também foi colaborador de diversos jornais da época, com artigos publicados em periódicos de São Paulo e também da então capital Rio de Janeiro.

Dennis de Oliveira, integrante do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre o Negro Brasileiro (Neimb) da USP e professor no departamento de jornalismo da ECA, foi um dos responsáveis pela proposta de homenagear Luiz Gama.

Em entrevista ao Jornal da USP, Oliveira explicou que considera Gama o “primeiro intelectual público brasileiro”.

“No jornalismo, na poesia e nas letras, Luiz Gama militava em prol do abolicionismo. Por isso foi um intelectual público. Ele fez uma análise sofisticada do que era a sociedade daquela época e expressou isso em sua produção literária, jornalística e jurídica com um objetivo: acabar com a escravidão”, explicou Oliveira, na entrevista.

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