Sobral completa 248 anos de elevação à vila sem motivos de comemorar

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Veja a crônica do jornalista Silveira Rocha sobre o atual momento porque passa Sobral neste tempo de pandemia e despreparo de gestão.

SALVE, SOBRAL EM SEUS 248 ANOS DE CIDADE

Olá, Sobral, estou aqui de novo, assim como desde quando aqui cheguei, desde quando passei a admirar-te, desde quando me inspiravas nos poemas com teus encantos e garbos de princesa. Sempre que eu pude, participei de teus aniversários, independentemente de ter ou não convite para tal. Hoje, nos teus 248, anos, não há convite, também não há festa.

Já não tem mais aqueles foguetórios do passado, os apitos das chaminés das fábricas, as serestas do Patriolino, nem as retratas da bandas de música do Wilson Brasil ou dos maestros Zequinha, Wanderlei e muitos outros regentes, que nos alegravam com seus dobrados.

Infelizmente, o que se escuta nesse tempo difícil são os soluços, o choro e o lamento que vêm dos teus cantos, dos guetos, das casas das famílias reduzidas, dos becos dos desvalidos e das catacumbas dos devorados pela maldição pandêmica que tirou de ti, assim como do mundo inteiro, pessoas de diferentes idades e com sonhos parecidos.

Que pena Sobral. Despertar neste dia 5 de julho e não poder mais respirar livremente teus ares, outrora saudáveis; que pena não poder mais olhar o teu rio, ver as canoas deslizando por tuas águas claras, escutar os sons das lavadeiras batendo suas roupas com um pedaço de pau e cantando sua felicidade que se espalhava por entre a meninada que, em algazarra, se banhava com a pureza de teu manancial.

Infelizmente já não há mais rio, ribanceiras ou torrões. Tua natureza foi violentada pelas redes de esgoto, devorada pela mão perversa do homem, que se faz inimigo de Deus quando destrói sua criação.

Sabe Sobral, eu não me atrevo a perguntar-te por aquela educação esmerada com que tu formavas teus gênios maravilhosos e os ofertava ao universo dos saberes; nem tampouco pela tua cultura que revelava artistas em festivais, em tablados de teatros, no jornalismo, na poesia e em diversas outras artes.

Também não ouso perguntar-te pelo teu sossego de antes, pela segurança que nos oferecia em tuas ruas, praças e avenidas, quando podíamos reunir a família, os parentes e os amigos nas calçadas, sem medo das balas perdidas e da ação de bandidos. Estamos encurralados, desgovernados e relegados ao insucesso.

Não, não me chame de pessimista, pois eu ainda sou bairrista, mas estou cheio de dor, de rancor, desesperança… Mais que tudo isso, decepcionado por não poder mais olhar os teus lados e tragar pelos olhos os encantos que outrora me mostravas e me davam motivos, muitos motivos de contemplá-la com meus versos e declarar-te o meu singelo amor de súdito. Desculpe-me soberana princesa, mas este plebeu não conseguiu, novamente, saudar-te como antes o fazia.

Deus te abençoe amada Sobral e te dê forças para reerguer-te e reassumir teu papel de galante.

Crônica de Silveira Rocha

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