Denúncias sem provas abalam credibilidade da CPI e da imprensa
Com o intuito de combater Bolsonaro, as instituições brasileiras se deterioram a tal ponto que houve um golpe judiciário, para salvar Lula, sem que houvesse comoção. Sem limites, a degradação se acentua.
Depois de interferir no Congresso, impondo a abertura de uma CPI que só tem servido à baixa exploração política, o STF manda abrir inquéritos para investigar o presidente, mesmo sobre os mais frágeis indícios e ainda faz articulação política, pressionando líderes partidários a mudar a composição de uma comissão para enterrar o voto impresso.
Assim é o corolário: se não vingou nenhum candidato testado para encarnar a terceira via – Dória, Leite, Jereissati, Huck, Ciro, Moro -, só restou ressuscitar o ex-presidiário. E, se mesmo assim, houver riscos, vamos manter o voto eletrônico, de forma a lhe assegurar a vitória.
A imprensa abandonou os mais comezinhos cuidados na apuração jornalística para dar manchetes de declarações não confirmadas, que servem para alimentar a CPI, Sem foco, a comissão dos sete picaretas ou dos três otários (definições de Bolsonaro), vaga sob os ventos das reportagens. Foi assim que, em mais uma iniciativa da Folha de S. Paulo, quando publicou que um servidor afirmara em depoimento que sofrera pressão atípica para compra de vacina, foi abraçada com vigor pelo G7. O saltitante chegou a dizer que “estamos diante do maior escândalo de corrupção”.
Eis que agora, em depoimento à PF, este mesmo servidor, irmão do deputado Luís Miranda, que claramente tentou chantagear o presidente, disse que não tinha provas da suposta pressão. E com uma desculpa esfarrapada de que teria trocado de celular e não fizera backup das conversas que provariam suas afirmações. Como é que não se guarda uma conversa dessa, que serviu para seu depoimento na CPI, estardalhaço na imprensa e inquéritos policiais?
O que está cada vez mais claro é que houve uma tentativa de chantagem, um blefe. Para quem entende de poker, o jogador tinha mão de 2 e 7, de naipes diferentes, deu all in. Apostou tudo. E não levou nada. O parlamentar, dobrando a aposta, chegou a insinuar que tinha gravação da conversa com o presidente, ou talvez o irmão. Dele, só restou uma frase que preste: “A grande bomba da CPI é que não há bomba nenhuma”.
Que papelão o da ministra Rosa Weber! Recebeu a notícia crime de três senadores de oposição, com claro interesse de exploração política, e deu seguimento a estratégia do desgaste presidencial. Mesmo diante da prudente postura da PGR que exortou aguardar o término da investigação da CPI. Pra quê? Ela subiu nas tamancas, alinhou os neurônios no laquê e passou um pito nos procuradores, que se sentiram obrigados a solicitar a abertura do inquérito.
A Folha continuou sua saga e trouxe em seguida a mais estapafúrdia das versões, a de que um servidor teria pedido propina de 2 bilhões de reais para compra de vacina. O que não aconteceu. Nenhuma vacina chegou, nenhum centavo saís dos cofres públicos. Tanto tempo depois, com a oitiva de diversos personagens envolvidos na narrativa, ninguém confirmou a versão de Dominghetti, o cabo da PM mineira que, nas horas vagas, vendia vacina.
O jornalão ainda hoje sustenta suas matérias: uma, a de que houve pressão atípica, sem explicar o que é isso. A outra, a da propina sem pagamento. O que ficou patente é que, diante de um exército de lobistas, classe que viceja com abundância em Brasília, os filtros burocráticos impediram qualquer tentativa de fechar negócios escusos, que contrariem o interesse público. Para acontecer a corrupção, teria que envolver uma rede de servidores, quase impossível. Mas a Folha dá fé à versão de que haveria a venda de 400 milhões de doses. Degradante.
Símbolo mais recente dessa degradação moral e institucional é a atitude do vice-presidente da Câmara, deputado Marcelo Ramos. Depois que Bolsonaro o apontou como responsável pela aprovação do fundão eleitoral, ele partiu para o revanchismo, a vendeta pessoal.
Informou à imprensa que solicitou cópias dos pedidos de impeachment para fazer análise política. Numa hora em que assumisse a presidência, executaria sua vingança. Tanto tento para fazer essa análise, só agora se dispôs. Pode ser visto também como um movimento de defesa para tirar de si os holofotes do imoral fundão. Como se dissesse para a imprensa: posso fazer o que vocês querem, me apoiem eu dou seguimento ao impeachment na primeira oportunidade.
Canalha, chantagista.