Vacina Sputnik sai de órbita

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O desembarque de um lote de vacinas Sputnik V, previsto para esta quarta-feira (28/7), no aeroporto de Recife, não aconteceu. A Rússia suspendeu o envio do imunizante sem definir nova data. Os governadores do Consórcio Nordeste ficaram a ver navios enquanto a Sputnik saía de órbita.

Camilo Santana sonhava todo dia com a chegada do “seu” imunizante, para não ficar aplicando só as vacinas de Bolsonaro. Até agora, todas as vacinas aplicadas no braço do brasileiro, e no do cearense, óbvio, foram compradas e distribuídas pelo Governo Federal. A aquisição é feita pelo Programa Nacional de Imunização, do governo federal, e aplicada pelo SUS em execução tripartite.

Só fazem parte do PNI os fármacos aprovados pela Anvisa, coisa que ainda não aconteceu nem com a vacina russa nem com a Covaxin, indiana. Elas estão sendo compradas com uma autorização para importação excepcional emitida pela agência sanitária. Mesmo assim, em número bastante reduzido (só 1% da população), de forma controlada, como se fosse uma das fases de estudo, pois não se tem a garantia de segurança e eficácia do imunizante.

Se foi frustrante para os governadores, que não conseguiram decolar o sonho da vacina própria, pode ter sido salutar para a população que não precisou se submeter a uma espécie de teste de vacina ainda experimental. No Ceará, seria o município de Limoeiro do Norte a servir de laboratório/vitrine da experiência. O povo, de cobaia.

O detalhe dessa vacina é que não seguem os parâmetros determinados na Medida Provisória emitida por Bolsonaro, que exige pelo menos duas condições: pagamento após a entrega da mercadoria e desde que aprovada pela Anvisa. Os governadores não se exemplaram com o calote dos respiradores, que sugaram mais de R$ 48 milhões dos cofres públicos, pois pagamento adiantado. Até hoje, sem entrega. O contrato com o Fundo Soberano, vendedor da vacina russa, previa antecipação de 25% do preço, com pagamento restante 5 dias após a entrega.

O roteiro parece se repetir. Se o governador Camilo Santana cumpriu as cláusulas contratuais, trazidas a público pelo Diário do Nordeste, e tudo leva a crer que sim, já está ardendo mais grana do povo cearense. O total, segundo divulgou o jornal, chega a R$ 337 milhões de nosso rico dinheiro. Por que o governador, e seus colegas nordestinos, se arriscou nessa aventura, já que havia garantia do Governo Federal? E logo numa vacina que ainda não foi aprovada por nenhuma agência sanitária de prestígio?

O certo é que com o pagamento antecipado desses 25%, está garantido o leite das crianças.

O pior é a esfarrapa desculpa que o Fundo Soberano apresentou aos incautos governadores, a de que não poderia continuar o envio até que o Governo Federal incluísse a vacina no PNI, coisinha difícil de acontecer no momento, pois o processo se arrasta na Anvisa, por falta de transparência e documentos não enviados pela farmacêutica.

Conversa para enganar trouxas. A Rússa está com dificuldades de efetuar a entrega. A Argentina já ameaça romper o contrato por causa do atraso. Os hermanos compraram 30 milhões de doses, e não chegou a 10 milhões. A Bolívia está na mesma situação, tentando um plano B com outras farmacêuticas.

Segundo a imprensa boliviana, o atraso se deve à variante Delta que tem devastado a Rússia, país que figura com maior número de mortes por covid nos últimos cinco dias. A vacinação por lá simplesmente se arrasta. O primeiro país a produzir sua própria vacina, feito utilizado em campanha de marketing até na escolha do nome. Com a Sputik em órbita, a então União Soviética superou os americanos na disputa espacial, durante a guerra fria.

A Rússia ainda não chegou a vacinar 18% de sua população, a despeito das campanhas de incentivo, com oferta em massa do imunizante em cada esquina. A título de comparação, o Brasil já ultrapassou os 60% de vacinados com a primeira dose. O que a Rússia vacinou com a primeira dose se assemelha aos números brasileiros com as duas doses.

O governo brasileiro já contratou mais de 600 milhões de doses, e tem projeção de vacinar todos os adultos até setembro com a primeira dose, e toda a população totalmente imunizada até o fim do ano. Portanto, o Ministério da Saúde já deixou transparecer que vai cancelar o contrato das vacinas Covaxin e Sputnik.

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