PEC dos Precatórios é aprovada mesmo com o piti de Ciro Gomes
Não adiantou o piti de Ciro Gomes, que ameaçou retirar sua candidatura caso o PDT votasse a favor da PEC do Auxílio Brasil. Mesmo com a mudança de votos, o governo venceu, ampliando a vantagem no segundo turno. Ciro se revoltou com a postura de seu partido, mas o mais emblemático foi na sua própria terra. Dos cinco parlamentares pedetistas, quatro votaram com o governo.
O mais surpreendente dos votos foi de Leônidas Cristino, o mais fiel dos guerreiros da família FG. Logo após o grito do coronel, que estava prestes a perder a boiada, Cristino diz “sim, senhor”, enfia a viola no saco e anuncia voto contra a pobreza. O importante era não desagradar o caudilho e garantir a candidatura cirista.
Deu certo o beicinho do pescoção, pelo menos nas hostes partidárias. PDT muda de rumo e vota contra. Ele já contava com a derrota do governo, já que no primeiro turno a vantagem foi de apenas quatro votos. Mas não contava com a astúcia de Artur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, em articulação com o Planalto.
Tampouco valeu o esforço concentrado do STF para colocar um torniquete nas emendas do orçamento, que, segundo a voz comum, estariam sendo usadas para barganhar apoios. Célere como poucas vezes, o Supremo formou maioria para brecar o pagamento das emendas. Serviu de emulação aos governistas, que redobraram os esforços.
Não foi preciso varar a madrugara, como na votação do primeiro turno. O texto base e seus destaques foram aprovados, e a PEC foi encaminhada para o Senado, o segundo round da luta para conseguir recursos com o fim de viabilizar os recursos para bancar o programa que vai superar o Bolsa Família, no valor de R$ 400,00.
Na luta pelo domínio das narrativas, as elites, com o apoio explícito e entusiasmado da velha imprensa, tentaram colocar na emenda a pecha de PEC do Calote. Não houve isso. Note-se que nenhum desses credores é uma passa-fome. E o governo não se negou a pagar a dívida. Reconhece-a, mas vai escalonar o pagamento.
Não pode ser coincidência que todas essas dívidas venham a se vencer no governo atual. O pagamento de precatórios anual, cujo valor variara em R$ 15 bilhões nos anos 2010, pulou para 30, 50 e agora 90 bilhões para 2022. E num período de gastos extraordinários para fazer frente à pandemia. Só em auxílio emergencial, o governo pagou em um ano, valor superior a mais de uma década do orçamento do Bolsa Família.
Ainda estamos na pandemia, sofrendo as sequelas na saúde e também na economia, tendo inflação e miséria social como as maiores consequências. A fome ataca milhões de brasileiros, cuja renda e qualidade de vida se deterioraram ao sabor do lockdows e políticas de distanciamento social.
Assim, mais de três milhões de famílias que se afundaram no fosso social precisaram ser acudidas pelo governo, crescendo de 14 milhões para 17 milhões o número de famílias beneficiadas com o novo auxílio.
Como votar contra, a não ser para fazer oposição ao governo e tentar fazer prosperar uma candidatura às custas das dores do povo? Assim como se tentou fazer um cima de uma pilha de cadáveres dizimados pela peste chinesa.