Dia de Campanha

Sobralito - Dia de Campanha
Coluna: Sobralito - Dia de Campanha - De Marcelino Júnior
Compartilhe

Sobralito e a importância da doação de sangue, que salva vidas.

“Mãe, hoje é dia de doar sangue!”, gritou Sobralito, naquela manhã ensolarada de quinta-feira, logo após ouvir no rádio, sobre o início da campanha de captação de sangue em Sobral, sua cidade. A Princesinha do Norte, histórica e resistente; mãe de artistas renomados, políticos conhecidos e um rio poluído, para a tristeza de quem se preocupa com o meio ambiente.

Encravada num pedaço de semiárido cearense, a cidade era fonte de orgulho do menino de 12 anos; leitor voraz de todo tipo de escrita, inclusive, de placas de outdoor, fachadas de lojas e bula de remédio, quando lhe faltava algum livro nas horas de lazer. Sobralito, também, era ouvinte interessado das rádios da cidade e morador do Alto do Cristo; bairro periférico, que se espalhava aos pés de um Cristo Redentor, de braços abertos para o horizonte, sempre acolhedor, e com uma das mais reais vistas da cidade: das casas e casebres sem reboco, escadaria abaixo, de vistosas parabólicas apontadas para o céu, ao mais alto e espelhado prédio, fincado nos lados mais abastados e perto dos cartões postais mais procurados da cidade.

O grito de Sobralito ecoou casa adentro, enquanto o menino corria ao quintal em busca de Dona Eulália, que pendurava mais uma peça, na corda frágil, lotada de roupas, toalhas, lençóis, e duas redes coloridas.

— Eu sei, meu filho. O pessoal do Hemocentro já tinha me avisado. — Respondeu a mãe, suada, enquanto apontava para um folheto em cima da mesa da cozinha, que divulgava a Semana Nacional do Doador Voluntário de Sangue, comemorada até o final de um nublado mês de novembro.

Sobralito, já foi passando a mão no folheto e começando a ler tudo; sob o olhar curioso de Cibele, que largou a tigela de ração e deu um uivo curioso, para saber o que acontecia; e Lara, que se espreguiçava no sofá, esticando longos bigodes brancos e recolhendo curvadas unhas afiadas, que se desprendiam do couro falso, recheado de minúsculos furos.  

Com o slogan “Uma Cor Que Nos Une”, o Hemoce homenageava os doadores de sempre, como dona Eulália, e buscava sensibilizar mais gente para a importância do voluntariado. Com a fluidez habitual e uma leitura impecável, o menino devorou as informações e logo correu para tomar um banho. Não perderia, por nada, mais um dia acompanhando a mãe na doação. Ainda mais, numa semana de campanha. Um dia, ele também faria parte daquele grupo de pessoas anônimas que, independentemente da situação financeira, ou de qual lado da cidade morava, não apenas doava sangue, mas um pouco de esperança aos acamados nos hospitais da cidade, à espera de transfusão. 

Você pode gostar...

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Skip to content