Sobralito e as compras no mercado vazio

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Frutas, legumes e verduras gritam na calçada para serem levados para casa

Pouco antes do Sol dar o ar da graça, lá pelos lados do Alto do Cristo, e o galo festejar mais um dia que chegava, Sobralito pulou da rede e correu para acordar dona Eulália. Todos os finais de semana, bem cedinho, os dois iam ao Mercado Público de Sobral, para fazer compras. Aqueles dias eram de diversão para Sobralito, que gostava de ajudar a mãe a escolher frutas e verduras; além de tomar café com tapioca, ou pão e ovo frito, num dos muitos boxes de comida do lugar.

Desde o início da pandemia de Covid-19, que já devorava o mundo, por quase dois anos, o mercado teve de fechar as portas, assim como todo o comércio, em meio a um confinamento. O momento era de lockdown. Palavra que Sobralito logo aprendeu o significado, por conta das muitas leituras no celular sobre a doença. Cepa, também foi outra palavra, logo incorporada pelo menino, que explicava aos amigos, com o peito estufado, o que significava: uma variante ou um grupo de variantes dentro de uma linhagem que se comporta um pouco diferente do vírus original. — Dizia, todo proza.

Esses dias do mês de novembro eram de retorno às atividades, por conta da redução dos casos, apesar da doença ainda circular por aí. A reabertura do comércio deu lugar, novamente, aos ambulantes de calçada, que ocupavam todo o entorno do velho mercado em busca de vender seus produtos.

Ao chegar ao local, Sobralito, logo percebeu uma discussão entre duas senhoras: uma delas mantinha um box de frutas dentro do mercado. E reclamava que a outra ocupava a calçada, disputando sua clientela, sem pagar as devidas taxas cobradas pelo Poder Público, aos chamados permissionários. A competição pelas vendas, sempre gerava um certo burburinho.

Curioso, como sempre, Sobralito deu um pulo para o lado, e ficou todo ouvidos, quando viu um verdureiro reclamar, exaltado, sobre a situação, a uma repórter, que o entrevistava.

—  O mercado está abandonado, não tem fiscalização, e estamos perdendo nossos fregueses, porque tem gente aí, na calçada, que tira nosso sustento. — Afirmava o comerciante, enquanto balançava, nervoso, um maço de cheiro verde.

Uma senhora, que carregava sacolas cheias de frutas, também entrou na conversa; e logo a repórter apontou o gravador para ela.

— É muito ruim, a gente ficar tentando passar pela calçada, totalmente ocupada por gente vendendo de tudo. Não tem espaço para o pedestre circular. — Relatava a senhora, que parecia um cabide, de tantas sacolas penduradas.

Acostumada àquele bate-boca sem solução, dona Eulália caminhava de banca em banca, concentrada em suas compras. Até porque, aquela discussão perdurava por anos, por conta da situação humilhante de quem não tinha espaço para expor sua mercadoria, e os que se sacrificavam para se manterem na ativa, do sustendo da família, pagando para estar ali.

No meio de toda aquela movimentação, o menino começou a gravar a entrevista para mostrar aos amigos, mais tarde. E, ao olhar ao redor, percebeu que a maioria das bancas estava fechada; e um vazio tomava conta de quase toda a parte interna do mercado. O menino poderia, até, ouvir o vento circulando entre pencas de bananas, ervas medicinais e legumes.

Foi quando Sobralito, se deu conta que, movimento, mesmo, havia ali, na calçada. Com gente subindo, descendo e desviando dos comerciantes eufóricos, que gritavam a plenos pulmões.

 — Olha a verdura! Olha o tomate! A banana tá a cinco real, a palma…

Na visão do menino, as frutas também pareciam gritar, eufóricas, para serem levadas dali.

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