Sem Réveillon, sem fogos de artifício
Os ouvidos de cães e gatos agradecem
— Pow! Plaft! Puffffff!
O barulho seco da explosão de fogos de artifício, naquele final de tarde, encoberto por nuvens cinzentas, no Bairro Alto do Cristo, fez com que Cibele respondesse, angustiada, com uivos profundos de puro medo; acompanhada, num coro assustador, por diversos latidos de outros cães, ali da redondeza, que corriam em busca de abrigo.
— Au, au, au, auuuuuuuuuuuuuu!
As explosões se repetiram, uma atrás da outra, criando pânico generalizado entre os vizinhos caninos. E, logo no primeiro estalo, Sobralito correu para acalmar Cibele, que arranhava a porta do quarto de dona Eulália, com a intensão de se esconder daquela barulheira toda. Lá fora, o caos era generalizado entre cães e gatos.
Sobralito já havia lido em algum lugar na internet que, por possuir uma audição muito mais potente do que a nossa, os cães, em especial, sofrem com barulhos muito altos, como os dos fogos de artifício. As explosões fazem com que o animal fique agitado, estressado e até traumatizado. O problema pode persistir por dias, dependendo do nível de estresse causado ao amigo canino.
Com carinho, e tentando distrair Cibele, Sobralito conseguiu prender sua atenção até que o barulho sumisse por completo. E, apesar da tremedeira, aos poucos, a cachorrinha caramelo já demonstrava uma certa tranquilidade, ao balançar a cauda fina de um lado a outro, muito bem deitada na cama de dona Eulália, que havia saído para limpar uma casa no lado nobre da cidade.
Ah, se ela visse tal cena… aí que sobrariam aus, e uis; tanto da cachorrinha, quanto do menino, que corria a encher a vasilha de água de Cibele; enquanto ela arfava, expondo uma enorme língua avermelhada.
Depois da correria, Sobralito finalizou suas atividades da escola, leu mais um capítulo do livro que havia pego na biblioteca de lá, e foi fuçar na internet para se distrair, enquanto o rádio permanecia, com o locutor a plenos pulmões, divulgando as notícias do dia. E uma, logo chamou a atenção do menino.
— O prefeito anunciou, por meio de suas redes sociais, que o município não realizará festa pública de final de ano e nem Carnaval, no ano seguinte, por conta dos riscos causados pela aglomeração. O que poderia trazer mais problemas de infecção da Covid-19. Portanto, as celebrações de fim de ano estão canceladas.
— O governo do Estado, também se manifestou contrário a qualquer tipo de festa pública. Até porque, segundo nota enviada à imprensa, não tem como ter controle absoluto em eventos abertos com número expressivo de pessoas. A notícia de novas manifestações do vírus mundo afora preocupa o Poder Público. Encerra nota. E agora vamos de música.
Dizia um animado locutor, enquanto sua voz era substituída por uma canção sertaneja, daquelas bem genéricas.
Quando a notícia chegou ao fim, Sobralito olhou para Cibele que, com a carinha mais sapeca do mundo, parecia sorrir, ao imaginar a alegria de não ouvir uma explosão, sequer, de fogos de artifício, nos festejos de final de ano, que se aproximavam.
Não demorou, e os dois correram a festejar, acompanhados de um coro de cães da vizinhança.
— Au, au, au, auuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!