Violência segue firme em Sobral mesmo com dados positivos da Polícia

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Enquanto o Poder Público divulga queda nos números de mortes no município, moradores vão às rádios reclamar da falta de segurança.

Uma mulher está em casa, em Sobral, e é chamada ao portão por um homem vestido de carteiro. Ao se aproximar, a dona de casa é abordada e avisada que se trata de um assalto. É tudo muito rápido, não dá tempo de reagir; e nem se deve, orienta a Polícia. A cena foi registrada por uma câmera de segurança. No Centro da Cidade, um grupo de lojas tem suas portas arrombadas na madrugada, e os ladrões levam todo o tipo de mercadorias. Outra loja, também no Centro Comercial, tem sua porta de ferro parcialmente destruída e os ladrões levam mercadorias; deixando somente prejuízo. Enfim, uma dor de cabeça para os proprietários. “Tem períodos, que muitas lojas aqui são assaltadas, uma seguida da outra. E pelo que vejo, nem sempre o Boletim de Ocorrência ajuda. Não estou reclamando da Polícia, que faz seu trabalho; mas nós precisamos, sim, de mais segurança”, reclama o comerciante, Rui Araújo Filho, vítima de mais um furto.

Felizmente, em todas as ocorrências citadas, as pessoas tiveram perdas materiais; mas nem sempre os relatos divulgados, incansavelmente, nas redes sociais têm um desfecho menos danoso à vítima. De acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado, de janeiro a dezembro deste ano, 3.028 pessoas perderam a vida, no Ceará, em decorrência da violência. As mortes foram causadas por diversas formas; as mais comuns foram por disparos de arma de fogo e ataques à faca. Os meses de maiores mortes foram janeiro, com 306 homicídios; setembro (301) e outubro, com 298 ataques, tendo a morte como resultado.

Comércio teve porta arrombada e mercadorias levadas na madrugada (Foto: Nildo Nascimento).

Para dar uma resposta à população, o Poder Público divulga, a cada mês, os números da violência. O município de Sobral também torna público esses números. A última reunião do ano, do Pacto por um Ceará Pacífico, de Sobral, teve à frente o comandante da Polícia Militar, coronel Sérgio Mesquita, que apresentou o levantamento com dados oficiais, que mostram a redução total de 20%, até o momento, no número de homicídios ocorridos no município, este ano, em comparação com o ano passado.

Loja de Sobral tem teto destruído e mercadorias furtadas (Nildo Nascimento).

A reunião contou, também, com a participação do prefeito Ivo Gomes e de representantes de todas as forças de segurança que atuam em Sobral, além do Executivo, Judiciário e Ministério Público. O encontro, que ocorre uma vez por mês, desde 2018, é um momento de discussão conjunta entre as instituições, na busca coletiva de saídas para o combate e a prevenção à violência.

Comerciante, do Centro, não aguenta mais tantos furtos (Foto: Nildo Nascimento).

Enquanto, de um lado, os dados oficiais são comemorados pelo Poder Público, do outro, a série de violências cometidas contra as pessoas, só muda a forma de abordagem; mas os riscos à vida e a integridade das vítimas é o mesmo. Há poucos dias, um casal entrou para as estatísticas de assalto, ao ter seus pertences e a motocicleta levados de um ponto movimentado do Bairro Junco. Ao buscar apoio na delegacia, foram orientados a fazerem o B.O. via internet. Se fizeram ou não, o certo é que a situação deixa cada vez mais pessoas fragilizadas e com a sensação de não ter a quem recorrer. O assunto tem sido tema, como sempre, de rodas de conversa e pauta nas rádios da cidade, que cobrem o dia dia das ações policiais.

O radialista Bené Fernandes, à frente do Programa A Hora da Notícia, veiculado pela Rádio Paraíso FM, diariamente, a partir das 15h, discute o assunto com os companheiros de bancada Wellington Soares e Gegê Romão. Os três discorrem sobre a falta de segurança na cidade e abrem espaço para que os próprios ouvintes relatem seus dramas. “A gente tem acompanhado isso, não somente a nível de Sobral, mas Zona Norte e Estado. Notamos que há uma crescente na violência, em todo o Ceará”, relata o radialista.

Radialistas Bené Fernandes e Wellington Soares dialogam com a população sobre a violência diária (Foto: Marcelino Júnior).

Bené, também acompanha as estatísticas oficiais dessa escalada. “As últimas estatísticas colocadas no sistema da Secretaria de Segurança Pública foram do dia 21 de dezembro, e apontam que houve 173 homicídios, nomes, a maioria à bala. Mas creio que a situação seja bem mais preocupante, pois vemos uma briga intensa de território, pelas facções. Temos bairros dominados. A Polícia tem trabalhado, mas a violência segue numa velocidade tão assustadora, que vemos que a Polícia não tem acompanhado a contento. As pessoas ligam para o programa e cobram por soluções, todos os dias”, explica.

Enquanto a Polícia divulga seus dados positivos sobre a relativa queda no número de ocorrências, e a população segue reclamando contra os mesmos dados, nas rádios e onde mais encontrar espaço, o jornalista e historiador Elenilton Roratto, segue numa outra via. Com a monografia Controle da Criminalidade: Análise da Geografia do Crime Como Instrumento de Segurança Pública Constitucional (2018), o profissional encerrou seu curso de Direito trazendo para discussão uma radiografia da criminalidade no município.

Uma das observações do trabalho é que, dos 35 bairros da cidade, 29 estão sob o domínio do Comando Vermelho, facção criminosa que atua no tráfico de drogas em todo o Estado. “Os territórios que mais se destacaram no estudo foram Sumaré, Terrenos Novos e Nova Caiçara. E essa situação não mudou muito de 2018 para cá. Em função disso, eu vi a necessidade de estudar o porquê desse aumento da criminalidade” explica Roratto, e segue. “Os fatores são os mais diversos; entre eles, o aparecimento social, no meio dos grupos, formados por indivíduos, cada vez mais jovens, que querem se destacar; além da falta de emprego, que muitos relataram, ao longo da pesquisa”, diz o pesquisador, e complementa. “Faltam sim, políticas públicas mais eficazes; falta uma Polícia mais investigativa e uma maior presença do Poder Público nos bairros, numa ação mais descentralizada, para tentar conter essa demanda”, pontua.

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