Covid-19 segue contribuindo com o aumento de doenças emocionais
Relatos de ansiedade e depressão têm tomado conta de consultórios psiquiátricos e psicológicos mundo a fora.
Em Sobral, Norte do Ceará, de acordo com Eraldo Sales (psicólogo), responsável técnico pelo Serviço de Psicologia Aplicada (SPA), que atua com a formação de estudantes, no atendimento gratuito à população, “desde que iniciamos as atividades, em novembro de 2020, cerca de 5.916 atendimentos foram realizados, até o mês de dezembro do ano passado. Se dividirmos o atendimento em 4 sessões por pessoa, tivemos mais de mil pessoas, que buscaram apoio. Reconhecemos que é uma demanda alta”, afirma Sales, e complementa. “Nesse período, os casos mais observados foram ansiedade e depressão. Aqui, os futuros psicólogos tentam empoderar esses pacientes a terem mais estabilidade emocional, para que a pessoa siga adiante, independentemente da situação em que se encontre; pois o ser humano deve, sempre, tentar seguir adiante”, explica.
O mundo entra para o terceiro ano convivendo com as perdas e as sérias mudanças que a covid-19 tem causado. Atreladas à infecção pandêmica, outras doenças têm se manifestado, segundo casos investigados pela Organização Mundial da Saúde e pela Associação Brasileira de Psiquiatria. Males como depressão; transtorno de ansiedade e de estresse pós-traumático; surtos psicóticos; insônia e estresse têm sido relatados com maior frequência.
A nova onda de Covid-19, em meio à alta transmissão da variante Ômicron e ao crescimento de casos de gripe, tem ampliado, também, a sensação de incerteza e do medo em relação às doenças, dizem especialistas. O isolamento social e as mudanças provocadas no cotidiano têm gerado uma sobrecarga de pressões psíquicas de várias ordens. Desde o início da pandemia, ocorrências de doenças mentais vêm aumentando.
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), quase 1 bilhão de pessoas vivem com transtornos mentais, atualmente. Outra pesquisa, realizada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), mostrou que 47,9% dos psiquiatras entrevistados perceberam uma alta nos atendimentos realizados, após o início da crise pandêmica e 89,2% dos médicos relataram agravamento do quadro psiquiátrico nos pacientes.
O psiquiatra João Daniel, que atende crianças, jovens e adultos no Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), observa que as pessoas reagem de maneira diferente a situações estressantes. “A forma de responder emocionalmente à pandemia vai depender de sua formação, história de vida, características particulares e da comunidade em que vive”, afirma o médico.
Ainda, de acordo com Daniel, durante a pandemia, foi observado um aumento na quantidade de pacientes que buscam ajuda por medo de adoecer, de ficar internado ou vir a morte. “São muitas queixas e inseguranças com as questões financeiras, perda de emprego e renda; existe o medo de perder pessoas queridas e as consequências do isolamento social que implicam, algumas vezes, em conflitos familiares”, diz.