Covid: estudo cearense identifica sequelas no pós internamento
Além de sequelas, o Projeto Follow-up busca detectar vestígios de sintomas relacionados a diversas complicações decorrentes da doença, após a fase de internação
Desde o início da pandemia, pesquisadores de todo o mundo têm se dedicado a entender as nuances da covid-19. No primeiro momento, com a falta de dados referentes à doença, uma verdadeira força-tarefa foi montada para identificar as causas do contágio, os sintomas mais comuns e, principalmente, a melhor forma de proteger a população por meio das vacinas.
No Ceará, um dos estudos em andamento é liderado pela Escola de Saúde Pública Paulo Marcelo Martins Rodrigues (ESP), vinculada à Secretaria da Saúde do Estado (Sesa). Há dois anos, as equipes da Gerência de Pesquisa em Saúde (Gepes) da autarquia iniciaram o projeto ResCOVID, a fim de criar o registro eletrônico de pacientes hospitalizados com a síndrome respiratória e de estruturar um banco de dados.
A iniciativa possui cerca de seis mil inscritos e apresenta informações relacionadas às características sociodemográficas e clínicas, sintomas iniciais, desfechos -–volta para a casa ou óbito – e hábitos de vida dos entrevistados. Com essas informações, a ESP tem oferecido diversos subsídios para a comunidade científica, além de auxiliar a gestão estadual da Saúde. As primeiras análises divulgadas tiveram como foco a evolução clínica de pacientes acometidos pela covid-19 nos hospitais estaduais cearenses.
O projeto ganhou uma nova vertente, batizada de Follow-up, que busca detectar vestígios sintomatológicos relacionados a sequelas e complicações da doença no pós-internamento, a partir de entrevistas realizadas via telefone.
“Esse é um estudo que contribui muito com a Ciência, abrangendo pacientes de todo o Estado, num momento em que a gente ainda está conhecendo a doença e, consequentemente, as sequelas que ela traz. Nós temos observado que, já com esses dados preliminares, há uma corroboração da importância de se pensar assistência e política de saúde”, explica o gerente da Gepes, Jadson Franco.
Participam da pesquisa pessoas que ficaram internadas em seis unidades de saúde da Rede Sesa: os hospitais Estadual Leonardo da Vinci (Helv), São José (HSJ), Geral de Fortaleza (HGF) e os regionais do Cariri (HRC), Norte (HRN) e do Sertão Central (HRSC). Todos os inscritos tiveram a identidade preservada. Os primeiros resultados levantados são do Helv. A amostra do equipamento conta com 470 pacientes, sendo 275 referentes à primeira onda e 195, do segundo pico de notificações de casos.
Na investigação de sintomas físicos, os pesquisadores notaram que a fadiga/cansaço apareceu com maior destaque, principalmente, na comparação entre a primeira e a segunda ondas de contágio, passando de 27,3% para 40%. Em seguida, vem a alopecia – conhecida popularmente como queda de cabelo – e a falta de ar. No âmbito psicológico, cinco problemas apareceram com mais frequência, de acordo com o levantamento: ansiedade, insônia, angústia, alteração, angústia, cognitivo-comportamental e medo de morrer.
No ano passado, por exemplo, os dois primeiros distúrbios citados afetaram mais de 60% dos pacientes, no pós internamento. Desde junho do ano passado, o Ceará conta com um equipamento exclusivo para reabilitação humanizada de pacientes pós-covid e outras enfermidades. Batizado de Casa de Cuidados. O espaço, também vinculado à Sesa, possui 130 leitos e está localizado no Hotel Recanto Wirapu’ru, no Condomínio Espiritual Uirapuru (CEU), em Fortaleza.