Alexandre Aloprado de Morais volta atrás e desbloqueia Telegram
Durante o fim de semana, o Brasil se alinhou às ditaduras ao bloquear as operações do Telegram. A decisão, monocrática e autocrática, de Alexandre de Morais, ministro do STF, não atingiu apenas a bigtech, mas cerca de 50 milhões de usuários.
Com forte reação da sociedade, de empresários a políticos, o ministro viu que o bloqueio saiu pela culatra e recuou da sua decisão. Para ser possível, o próprio Telegram, que se desculpou por não atender as demandas do todo-poderoso, cumpriu algumas ordens, tais como excluir postagem do canal do presidente Bolsonaro, com link para o inquérito que investiga invasão do TSE por hakers.
Outra medida inegociável, por estar num âmbito claramente pessoal, foi o bloqueio do canal do jornalista Allan dos Santos, a quem Morais quer ver extraditado, na miséria e preso pelo crime de opinião e de se contrapor às ideias do ministro.
Curioso foi ver jornalistas aplaudindo uma atitude frontalmente contra a liberdade de imprensa. É inconcebível que uma rede social possa operar num país sem atentar para suas leis. Tanto quanto a prerrogativa de ditar o que é ou não fakenews. E ainda peroraram contra o aplicativo, que seria ninho de ilegalidades e crimes.
Ora, o mesmo se pode dizer de toda a internet, incluindo a deep web, celeiro de ações criminosas, que vão da pedofilia ao tráfico de armas. Vamos então bloquear a internet? É claro que não. Ainda não temos uma boa resposta a esses desmandos, a não ser tratar caso a caso. Bloquear tudo, no entanto, não é a solução. É o pior caminho.
Reside exatamente aí o problema da proibição de fakenews: quem vai dizer o que é ou não verdade. Ninguém em plena consciência democrática pode ser a favor da desinformação. No entanto, não é razoável atribuir ao Estado, e muito menos, às operadoras, o discernimento da verdade. O advento das fact-checking é o prenúncio da criação do Ministério da Verdade, vaticinado por George Orwell em seu profético 1984.
Caso emblemático aconteceu nesta semana com o jornalista Guilherme Fiuza, comentarista do programa Pingo nos Is, da Jovem Pan. Publicou relatório do Reino Unido, atestando que, entre as mortes por covid, há mais vacinados que não imunizados. É até óbvio. A probabilidade é maior, tendo em vista que cerca de 70% foram vacinados.
Estima-se que essa invertida de Morais contra o Telegram tem outro alvo. O canal seria o favorito dos bolsonaristas, mídia em que Bolsonaro lidera com mais de 1,2 milhões de seguidores. Morais, que vai presidir o TSE, está disposto a cumprir suas ameaças sobre fakenews nas eleições. O problema é que não há lei criminalizando a desinformação. Mas isso é só detalhe. Em todas as alopradas decisões de Morais a Lei foi simplesmente ignorada.