As manifestações de Pacheco

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O presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco, veio a público para demonstrar ignorância e desprezo sobre a democracia. Antes mesmo das manifestações do primeiro de maio, veio explicar que uma seria legítima, e a outra, antidemocrática. A que defendia Lula, na visão dele, seria a legítima. Ora, se o poder emana do povo, qualquer manifestação popular, seja sob qual bandeira, será democrática.

Se levarmos em consideração que a democracia é o poder do povo, por sua maioria, a bolsonarista seria a mais democrática, pois bem superior às que foram produzidas em favor do ex-presidiário Lula. Na verdade, as duas foram manifestações populares, portanto democráticas, por representar um pensamento de segmentos sociais. A democracia, embora seja o poder da maioria, não pode sufocar a minoria. A diversidade de pensamento fala do vigor democrático. Foi o que se viu, tanto na Paulista, quanto na Charles Muller, no Pacaembu.

Também é costume associar a democracia ao estado de direito. Neste caso, a esvaziada manifestação em favor de Lula, travestida de ato trabalhista, foi, sim, antidemocrática, pois descumpriu a lei eleitoral. Ao contrário de Bolsonaro, que apenas cumprimentou manifestantes em Brasília e enviou um vídeo curto transmitido na Paulista, Lula esteve presente e discursou. Foi comício fora de época, o que é ilegal. Ilegalidade maior: foi showmício, agravada pelo pedido de voto, vocalizado por Daniela Mercury.

Dos atos populares, algumas conclusões. O tempo passou, e Lula ficou preso no tempo, com ideias velhas, sem compreender o novo que chegou com força. As centrais sindicais, outrora catalisadoras de grandes mobilizações, perderam força. Lula teve que esperar mais de duas horas para falar no comício, por insuficiência de público. Nem pão com mortadela, nem cantora baiana, foram suficientes para levar plateia. Os bolsonaristas, empolgados pela defesa da liberdade de expressão, estavam em número bem maior nas ruas e praças do Brasil, incluindo a de Portugal, em Fortaleza.

Os tempos mudaram muito rapidamente. Talvez o melhor mapa esteja no livro “Os Engenheiros do Caos”, do jornalista italiano Giuliano da Empoli, cuja leitura recomendo com entusiasmo. Barroso chegou a citar o livro, mas parece não ter entendido a sua mensagem. O jornalista foi entrevistado na Folha, analisou o cenário mundial e brasileiro, e disse que a forma que o STF está adotando não é a melhor opção para enfrentar os protagonistas de seu livro.

Todos agora falam na derrocada da democracia, que estaria sendo solapada por líderes populistas. Neste caso, não se pode apontar apenas para Bolsonaro. Tão populista quanto ele é Lula, prometendo mundos e fundos para ganhar votos. Já que está em voga a inapropriada expressão, é um verdadeiro negacionista. Nega todos os avanços dos últimos anos e ameaça revogá-los, principalmente na esfera econômica.

Lula aproveitou o ato para se desculpar do que estão chamando de gafe, quando insinuou que policial não é gente. Mas, ao comentar o indulto de Bolsonaro ao deputado Daniel Silveira, ele provou que não era gafe, mas a revelação do sentimento que transborda seu coração. Disse que o indulto deveria ser para jovens criminosos, que não têm advogados, em vez de quem afrontou o STF. Silveira é policial. Mais uma vez, a preferência por bandido em detrimento aos policiais. Logo ele, que havia afrontado o STF “acovardado”.

Senhor Pacheco, o povo é a democracia. Em vez de criticar o que vem das ruas, tente ouvir a sua voz rouca.

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