Ciro, a rebeldia do desespero

Compartilhe

Depois de longo tempo de convívio, Ciro agora vem falar de uma banda corrupta do PT cearense. Só agora, por quê? Porque só agora os petistas resolveram ter voz altiva na aliança e disseram que não aceitam o candidato dos FG, Roberto Cláudio.

Para Ciro, não basta se aliar, tem que se render. Os petistas cearenses até que aguentaram o destempero cirista contra Lula, mas agora ameaçam romper a aliança e lançar candidatura própria. Com baixa competitividade no cenário nacional, Ciro se arrisca na paróquia. Pode ficar sem mel nem cabaça.

O descontrole verbal de Ciro Gomes, conhecido pelo pescoço longo e o pavio curto, já é lendário. É quase um Lunga da política. Seus principais adversários na disputa eleitoral já não se dão ao trabalho de responder. Bolsonaro diz que não é psiquiatra para lhe dar atenção, Lula diz que o cearense é um peixe com a boca aberta à espera de um anzol.

Impulsivo e de ímpeto autoritário, Ciro descarrega sua metralhadora para todos os lados, mas sempre foi complacente com os aliados. Jamais engoliu o PT, mas se aliou à legenda em prol dos interesses locais, quando apoiou Veveu na prefeitura de Sobral, e Camilo, no governo do Estado. Sua relação com Lula foi bipolar, ora minimizando as roubalheiras dos companheiros, ora acusando de ser o chefe da quadrilha.

O pote até aqui de mágoa, abastecido gota a gota em cada campanha eleitoral, transborda de ressentimento. Toda vez que Ciro, outrora brilhante, tentava alçar voo, suas asas eram podadas. Lula lhe passa rasteira desde quando o tirou da competição com a promessa de que Ciro seria apoiado para o governo de seu estado natal, São Paulo. Ciro capitulou, transferiu o título, e a promessa não foi cumprida.

Noutra ocasião, quando Ciro tentava articular uma aliança de partidos para dar musculatura à sua candidatura, ela foi minada pelo próprio Lula, que chamou o PSB para debaixo de suas asas, mesmo a custo de sacrificar, na época, a companheira Marilia Arraes em Pernambuco. Noves fora a autossabotagem de suas infelizes frases que contribuem para a derrocada de suas pretensões presidenciais, foi o PT que, de vera, o alijou. Até quando optou por Haddad.

Parecia preferível ao PT perder com Haddad a ganhar com Ciro Gomes, que possivelmente obnubilaria a imagem de Lula, já esmaecida numa cela de Curitiba, com fortes acusações de corrupção, num leque que se estende do Mensalão ao Petrolão.

Ciro Gomes parece entoar o canto do cisne. Usou todos os recursos do marketing eleitoral para se viabilizar como alternativa à polarização entre os líderes nas pesquisas. Fez campanha, lançou livro, contratou marketeiro de primeira linha, lançou o slogan do Prefiro Ciro. Como não colou, e com base em sua personalidade mercurial, Santana partiu para outro: a rebeldia da esperança. Como até agora ainda patina, sem alcançar sequer os dois dígitos na pesquisa, revela-se, com seus últimos atos, a rebeldia do desespero.

O desespero bateu à sua porta não apenas pela falta de expectativa, já previsível, no plano nacional. É que, pela primeira vez, as pesquisas indicam que ele não vence nem no próprio território. Os cearenses, preferem Lula e Bolsonaro, relegando o terceiro lugar para o cearense de Pindamonhangaba. Isso deve ter mexido com seus brios e com a enorme vaidade. A calma ensaiada nas lives do YouTube não resiste às imagens de narinas infladas a desferir impropérios a quem não lhe faz vassalagem.

Acostumado a vencer as eleições estaduais sem muita turbulência, a família Ferreira Gomes levou susto no pleito municipal de Fortaleza, quando, por pouco, Capitão Wagner não quebra a hegemonia da oligarquia. Desidratado no plano nacional, Ciro se volta para o Ceará e começa a agir como o elefante em loja de louça. Inconformado com a resistência de petistas ao seu candidato Roberto Cláudio, ele disse que iria enfrentar a ala corrupta do PT cearense.

Tudo porque o PT apoia a candidatura da governadora Izolda Cela e veta Roberto Cláudio. A postura de ataque aos petistas cearenses é nova, como ele mesmo advertiu na entrevista em que ameaçou enfrentar a ala corrupta. Mas, se é corrupta, não é de agora. Por que se calou por tanto tempo, por que só agora resolve destratá-lo, incluindo o nome de Luizianne Lins, ressalvando Camilo, o bom petista, que receberá seu voto, com ou sem aliança?

Por falar em Camilo, é revelador seu obsequioso silêncio diante das agressões de Ciro a seus correligionários, não lhe restando alternativa: conivência ou subserviência. Ou há essa ala corrupta, e Camilo teria contemporizado com a corrupção no período; ou ela não existe, e ele se cala para não melindrar o chefe político.

Por falar nas pretensões de Camilo, a rebeldia do desespero pode apontar para uma solução drástica a fim de evitar a desmoralização de uma derrota acachapante, perdendo até mesmo o poder estadual. Para não ficar sem mel nem cabaça, Ciro pode ser o candidato ao governo do Ceará, trazendo de volta ao palco a candidatura de Tasso ao Senado. E Camilo? Que trate de ser o deputado federal mais votado, bem caladinho.

Você pode gostar...

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Skip to content