Cientistas discordam quanto a existência de anel em buracos negros
A nova imagem divulgada do fenômeno tem circulado o mundo e dividido opiniões.
Parece que nem todos os cientistas estão convencidos que a primeira imagem de um buraco negro, produzida pela colaboração Event Horizon Telescope (EHT) em 2019, esteja correta. A recente imagem divulgada mundo afora tem dividido opiniões científicas. É que um novo estudo analisou os dados das observações com outros conjuntos de “regras” e não encontrou o famoso “anel” alaranjado.
Nas duas imagens de buracos negros já obtidas pelo EHT (a de 2019, que retrata o objeto no centro da galáxia M87, e a mais recente, que revelou o buraco negro supermassivo da Via Láctea) encontramos o mesmo círculo brilhante. Ele é, na verdade, o plasma que gira ao redor dos buracos negros em velocidade próxima à da luz.
Para os cientistas, encontrar os anéis em formato de círculo perfeito é importante para validar as consequências previstas da Teoria da Relatividade Geral, de Albert Einstein. Isso porque, segundo os cálculos da relatividade, a matéria deveria ser acrescida ao redor de um buraco negro, exatamente o que se constata nas imagens do EHT.
Contudo, um novo estudo questiona esses resultados. Em vez de restringir a luz coletada pelos telescópios a uma área relativamente pequena, como fez a colaboração do EHT, os autores assumiram um campo de visão muito maior. Por meio de diferentes métodos com resultados diversos, nenhum anel apareceu na imagem final.
O que os autores encontraram foram dois pontos brilhantes distintos, um representando a área diretamente ao redor do buraco negro e outro ao lado, representando a base de um jato de matéria que trabalhos anteriores mostraram saindo do centro da galáxia M87. Para Makoto Miyoshi, do Observatório Astronômico Nacional do Japão, o campo de visão restrito usado pelo EHT pode ter causado artefatos na imagem divulgada em 2019.
Esses artefatos, ainda de acordo com Miyoshi, estariam relacionados ao arranjo da rede de telescópios usados pelo EHT, e não a estruturas reais no espaço. “Pode ser que o mesmo erro tenha formado a imagem do anel também no caso do Sagittarius A*”, diz Miyoshi, referindo-se ao buraco negro no coração da Via Láctea, revelado na imagem deste mês.
Mesmo assim, com a publicação do novo artigo questionando a estrutura de anel, os cientistas do EHT estão dispostos a demonstrar que o trabalho nas imagens dos buracos negros é confiável — enquanto Miyoshi e seus colegas sustentam suas críticas. O EHT tem novas observações, com ainda mais telescópios, feitas em 2018 e no início de 2022 a serem convertidas em imagens, o que deve resolver o debate.