Sobralito e as crateras da Lua
Numa aula de campo no Bairro Belchior, Sobralito e a turma se assustam com a quantidade de buracos.
Quando o ônibus escolar estacionou, Sobralito foi um dos primeiros a entrar. Alegre, o menino logo correu para ficar numa das muitas janelas do carro, que foi enchendo rapidamente. A ideia era fazer pequenos vídeos para jogar na internet. E, antes do carro partir, em meio à algazarra, dona Lili, a professora, logo se apressou para lembrar o real motivo do passeio.
— Meu povo, como vocês sabem, hoje é a primeira quinta-feira do mês, dia de aula de campo. Vamos visitar o Bairro Belchior. O ônibus vai circular por algumas ruas, e eu quero uma redação sobre o que vocês conseguirem identificar de dificuldades que os moradores enfrentam, e que melhorias poderiam ser feitas pelo Poder Público, entendido?!
— Sim, fessora! Gritou a turma numa só voz.
Devagarinho, o veículo foi deixando a escola para trás e seguindo seu destino. Era por volta das 9 horas e o trânsito para os lados do Belchior estava bastante pesado. Depois de cruzar a Avenida Doutor Guarany, bem perto do Arco de Nossa Senhora de Fátima, maior cartão postal de Sobral, o ônibus atravessou ligeiro a ponte sobre a Avenida Fernandes Távora e, em pouco tempo, entrava na rua de acesso ao Bairro Belchior.
O alvoroço do lado de dentro do veículo era quase incontrolável, e dona Lili já havia se arrependido de ter criado esse projeto de passeio com redação, uma vez a cada mês. Na maioria das vezes era divertido, ela admitia; mas para tudo dar certo, só mesmo o amor à sala de aula poderia explicar. Ela era apaixonada pelo que fazia.
Ao longo do passeio, a turma se encantou com as centenas de garças que se aninhavam nas árvores, ao longo da avenida. O barulho chamou a atenção de todos, que logo apontaram seus celulares para registrar o momento. As aves estavam em pleno período de acasalamento, e aquilo tudo era uma verdadeira festa. A imagem já valia como parte da redação.
Perto da praça central do Bairro, a imagem que logo chamou a atenção da turma foi do mato que se espalhava por todo lado. Não demorou e, quando o ônibus entrou numa rua, o festival de buracos fez o veículo chacoalhar feito goiaba no liquidificador. Quem não estava preso pelo cinto de segurança foi lançado, de um lado a outro, como pipoca sem rumo. Logo, as risadas deram lugar à preocupação, quando, num relance, o ônibus passou de um buraco a outro, até cair de vez numa enorme cratera.
Depois do acidente, o pneu estourado obrigou a todos a saírem do carro. Com ajuda de dona Lili, a turma se organizou, depois de fotografar a cena toda. E já que não tinha mais como circular de ônibus, o jeito foi partir a pé, em busca de material para suas redações. Enquanto isso, seu luiz, o motorista, ligava para um mecânico. A situação era mais complicada do que parecia a princípio.
Aos poucos, a turma foi se deslocando bairro adentro. E era tanto buraco, tanta lama e mato, que não iria faltar material para os textos. Os meninos fotografaram um cano estourado, com água potável rolando rua abaixo; carros e motocicletas desviando, com dificuldade, da buraqueira; além de ciclistas, se deslocando com cuidado, entre as crateras. E, para complicar, a chuva que caíra no dia anterior, tornou o que já era difícil, algo quase impossível. Uma verdadeira aventura.
Depois de circular por algumas ruas e conversar com um morador e outro, os alunos voltaram ao ônibus; que ainda levou cerca de meia hora para ser consertado. Cansada da aventura, a turma voltou à escola mais quieta naquele final de manhã. Pouco tempo depois, todos já se deslocavam da escola para casa com seus pais, ou em grupos. A redação deveria ser lida e entregue no dia seguinte; e Sobralito já tinha um título: Bairro Belchior, uma aventura nas crateras da Lua.