Fiocruz alerta que novas pandemias podem surgir de vírus e bactérias da Amazônia

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“A devastação da Amazônia ameaça à saúde pública global”, relata pesquisa publicada hoje (30),  com destaque na revista Science Advances.

Uma pesquisa liderada por cientistas do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) alerta para o risco da emergência de epidemias e pandemias a partir do Brasil. O trabalho revela, por exemplo, 173 tipos de patógenos (vírus, bactérias, vermes, parasitas, fungos) associados à caça, e que podem causar, ao menos, 76 doenças em seres humanos. Ninguém está imune ao que ocorre na Amazônia, mostra o estudo.

A densidade da floresta guarda uma infinidade desconhecida de patógenos (Foto: divulgação).

Os pesquisadores desenvolveram modelos para avaliar o risco de surgimento de zoonoses, doenças transmitidas de animais para seres humanos, em cada estado brasileiro. O risco existe em todo o Brasil, mas nenhuma região é tão vulnerável quanto a Amazônia, conclui o artigo. Ela abriga todas as condições para uma tempestade pandêmica perfeita. Tem a maior biodiversidade terrestre do mundo associada a taxas de desmatamento recordes — as maiores em 15 anos — e populações em cidades remotas e com baixo acesso a serviços de saúde.

Os pesquisadores destacam que o risco da emergência de doenças aumenta com a piora das condições ambientais e sociais do país. Segundo o estudo, os locais de maior risco de surtos são as cidades amazônicas remotas junto a áreas de desmatamento.

“Muitas espécies de animais perdem o habitat devido ao desmatamento e se aproximam de povoações. Com isso, é rompido o equilíbrio na dinâmica que mantém vírus e outros patógenos na segurança da floresta. A caça e derrubada da floresta são inimigos letais de seres humanos”, afirma a primeira autora do estudo, Gisele Winck, do Laboratório de Biologia e Parasitologia de Mamíferos Silvestres Reservatórios do IOC.

Apenas oito dos 27 estados brasileiros apresentam risco baixo de emergência de doenças infecciosas transmitidas por animais, mostra o estudo, chamado “Socioecological vulnerability and the risk of zoonotic disease emergence in Brazil” (Vulnerabilidade socioecológica e o risco de emergência de zoonoses no Brasil, em tradução livre). As regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste têm os maiores níveis de risco. Sudeste, risco médio. E Sul, baixo. O estudo revelou que plantar árvores e aumentar a cobertura vegetal de áreas urbanas reduz o risco de zoonoses.

Segundo a pesquisa, caçadores funcionam como elos entre microrganismos da floresta e os centros urbanos. Eles podem carregar patógenos de doenças que, se não fosse isso, continuariam longe do ser humano, sob a guarda da floresta. Os cientistas explicam que a infecção de caçadores ocorre de várias formas. Na floresta, o caçador é exposto a picadas de mosquitos, carrapatos e outros vetores. Também pode se infectar por meio de cortes e até pequenos arranhões. Outra forma de contágio é o preparo e o consumo da carne de caça. Os cães de caçadores também podem ser contaminados e levar patógenos para fora da mata.

 “Encontramos 76 doenças conhecidas, mas a Amazônia é imensa e apenas uma pequena parcela de sua biodiversidade foi estudada e muitos casos de doença não são notificados”, frisa Gisele Winck, do IOC, que divide o trabalho com cientistas de outras unidades da Fiocruz, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), da Universidade Estadual do Ceará (UECE), da Faculdade Maurício de Nassau (Sergipe), da União Internacional para a Conservação da Natureza e das universidades portuguesas de Coimbra e de Aveiro.

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