Agência americana que regula alimentos e drogas reforça alerta contra uso de cigarros eletrônicos
Mudanças na forma de consumir cigarro, uma das drogas mais comuns entre os adolescentes, podem impactar mais severamente a saúde dos jovens, explicam especialistas.
O modismo no uso de dispositivos eletrônicos que permitem a vaporização da nicotina está potencializando riscos e escalando problemas para a saúde de quem utiliza esse equipamento. Na última semana, a FDA (agência norte-americana que regula alimentos e drogas) ordenou que a empresa Juul, muito popular entre os adolescentes, seja proibida de vender cigarros eletrônicos
“Cartuchos e cápsulas com sabores adocicados utilizados em vaporizadores tecnológicos e atraentes podem servir como uma armadilha para que os jovens comecem a consumir nicotina mais cedo e, rapidamente, tornem-se dependentes”, apontam os estudos americanos. Vaporizar tem sido uma tendência entre os jovens, ao invés de fumar. Só que o hábito, considerado por eles como mais moderno, mais “limpo” e menos poluente, também traz riscos.
Os especialistas da pesquisa não endossam a teoria de que o cigarro eletrônico e o “vapor” sejam uma alternativa mais segura que a fumaça dos cigarros comuns. Eles apontam doses, até mais altas de nicotina, e afirmam que várias das substâncias liberadas pelos dispositivos podem ser tóxicas para o s pulmões e aumentar o risco de câncer.
Outro alerta é que muitos jovens podem começar com o eletrônico e, depois, migrar para o tabagismo. A FDA vem apertando o cerco contra a indústria do tabaco, e já anunciou que vai proibir cigarros com sabor mentol, além de apresentar planos para redução dos níveis de nicotina dos cigarros tradicionais. A Agência também vai determinar quais cigarros eletrônicos atendem os padrões esperados de saúde pública. No Brasil, os dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs) são proibidos, mas mesmo assim, os jovens conseguem comprá-los facilmente, principalmente, pela internet.
Cigarros eletrônicos também têm sido utilizados pelos jovens para vaporizar maconha, aponta a pesquisa. Com menos cheiro, essa é uma estratégia que ajuda a disfarçar de pais e professores o consumo da substância. E, apesar de o uso recreativo de cannabis (da mesma forma que o álcool) ser proibido para menores de 21 anos nos EUA, ela ficou muito mais acessível para os jovens nos estados em que foi legalizada.
Uma matéria do jornal The New York Times da última semana mostra que o problema é que muitas das “maconhas” disponíveis hoje nos EUA, na forma de óleos, ceras e cristais, têm concentração de THC de até 90%. Uma maconha “comum” (prensada), atualmente, tem cerca de 15% de THC. Na década de 1960, esse índice era de 4% a 5%. Além da concentração muito mais alta de THC, houve uma queda importante dos níveis de CBD (componente que leva ao alívio de convulsões, dor, ansiedade e inflamação e, por isso, muito utilizado nos tratamentos à base de derivados de maconha). Esse desequilíbrio entre as duas substâncias aumenta os problemas.
Dependência, transtornos de depressão e ansiedade, piora da memória, ideação suicida e quadros psicóticos (alguns deles para a vida toda) são alguns dos riscos aumentados pelo uso de maconhas mais potentes. Ainda, de acordo com o The New York Times, em 2020, 35% dos alunos do último ano do ensino médio e 44% dos universitários norte-americanos haviam consumido maconha nos 12 meses anteriores; ou seja, um padrão de consumo bastante prevalente. Outros estudos sugerem que usuários de maconha de alta potência têm cinco vezes mais risco de desenvolver um quadro psicótico do que pessoas que nunca usaram esse tipo de produto.
“Doses mais altas, uso de vaporizadores, baterias dos dispositivos mais potentes e temperaturas mais elevadas do vaporizador podem aumentar a velocidade e a quantidade de THC que chega ao cérebro, trazendo maior risco de agitação, ansiedade e paranoia”, reforça a matéria do jornal americano. Em adolescentes, o cérebro que ainda passa por importantes mudanças estruturais, está mais vulnerável.
O alerta que a pesquisa coloca é que pais, educadores e profissionais da área da saúde estejam atentos para esse tipo de comportamento, que também pode estar se tornando mais frequente aqui no Brasil. De acordo com o médico psiquiatra Jairo Bauer, “orientar, explicar, discutir riscos e entender motivações são passos importantes para estabelecer uma melhor estratégia de comunicação com os jovens sobre experiências e excessos. Melhor estar atento e enfrentar eventuais dificuldades, do que não querer saber o que pode estar acontecendo quando você não está por perto”, conclui.