Quem gosta mesmo de mulher?

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A foto da reunião do PDT com Ciro Gomes retrata o poder exercido por homens brancos. Nenhum negro, nenhuma mulher, nem mesmo para meizinha. Sob o comando do macho alfa, a expelir feromônios na fala, que gosta de exibir altas taxas de testosterona, que já disse que o papel da esposa em sua campanha era dormir com ele, estava ali para fazer valer sua vontade, para vetar o nome de uma mulher, o da governadora Izolda Cela. Foi o mesmo partido que bateu a valer em mulher durante a campanha eleitoral à Prefeitura de Fortaleza. Em terceiro lugar nas pesquisas, Sarto precisava fulminar a candidatura de Luizianne Lins. A coitada apanhou mais que galinha para tirar o choco. Na época, Camilo manteve silêncio diante do massacre provocado pelo marketing da pancadaria contra sua correligionária petista.

Em recente evento em Sobral, numa das inaugurações apressadas, exatamente para tentar consolidar a imagem de Izolda Cela, o prefeito Ivo Gomes, numa fala que reverberava ódio, se dirigia ao governo federal com palavras torpes. Salivando sentimos ruins, o caçula dos Ferreira Gomes falava de um governo misógino, um governo que não gosta de mulher. Até pensei que fosse um mea culpa, mas era contra Bolsonaro.

A bancada feminina da Câmara dos Deputados é composta por 77 mulheres. O PSL, sigla que elegeu Bolsonaro, tão execrado pelo debochado prefeito de Sobral, elegeu nove mulheres, a segunda maior representação. Só perde para o PT, composto de 10 mulheres no parlamento federal. Isso demonstra que o discurso se distancia da prática, mas vale mais a narrativa.

Não apenas o nicho parlamentar cearense do PDT, como revelado na foto, é pouco representativo em questão de raça e gênero. A bancada feminina representa apenas 15% dos deputados federais, bem diferente do universo populacional em que as mulheres estão numericamente à frente, com índice de 51,5%. Já foi pior. A representação parlamentar da mulher subiu 50% nas últimas eleições. O índice era em torno de 10%

Em 2018, pela primeira vez, houve autodeclaração de raça. Com isso, podemos mensurar a representação de raça. Os negros, incluindo pretos e pardos, somam 125 deputados, índice inferior a 25% dos representantes do povo. Segundo o IBGE, a população brasileira é formada por 54,9% de negros e 44,2% de brancos. Isto é, em questão de raça e gênero, o povo está sub-representado.

A democracia é o poder da maioria. Sob o aspecto meramente conceitual, nós ainda não somos tão democráticos já que a maioria da população, composta por mulheres, e a grande maioria, composta por negros, carece de representação. Mas a grande maioria mesmo, a de pobres, só serve para votar. O que não se pode é surfar num discursinho progressista, seja para autoelogio ou defenestração de adversários. Na prática, quem gosta mesmo de mulheres?

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