Bolsonaro desabafa com os embaixadores
Em contraponto a uma reunião que o ministro Edson Fachin fizera com embaixadores, o presidente Bolsonaro recebeu os representantes estrangeiros no Palácio do Planalto para dar sua versão. Com mais de 60 convidados presentes, Bolsonaro causou frisson em Brasília nesta segunda-feira (18/7). O homem é mesmo do barulho. Na reunião do TSE, Fachin, num ato político, que lhe é negado pela Constituição, criticou o presidente de seu país a estrangeiros, insinuando que o Chefe do Executivo seria golpista, e estaria propenso a não aceitar o resultado adverso das urnas. Ninguém viu nada de anormal, como se fosse aceitável um juiz eleitoral acusar uma das partes, o chefe do Executivo, que também é candidato, conclamando os embaixadores a estimular seus países a reconhecer o resultado eleitoral. imediatamente após a divulgação. Quando Bolsonaro repõe a verdade, a grita é geral.
A mídia já tinha armado o circo e preparado o bote. A Folha, antes do evento acontecer, antecipou, na versão online, o roteiro da apresentação e da reação da imprensa: “Bolsonaro deve repetir a embaixadores mentiras sobre urnas eletrônicas”. E consolidou na versão impressa, manchete da capa: “Bolsonaro mente sobre urnas eletrônicas a estrangeiros”. Foi uma verdadeira blitz da imprensa, todos deram manchete para o tema.
Logo após o evento, havia uma resposta pronta de Fachin. Barroso também soltou nota, dizendo que é cansativo repor a verdade. O ministro deu palestra num evento nos Estados Unidos, cujo título era “Como derrubar um presidente”. Lógico que, como ministro de um tribunal eleitoral, ele deveria ter declinado do convite. Parece que aceitou com muito gosto e acha que basta dizer que esse não era o tema de “sua” palestra.
O TSE se apressou também em publicar uma lista para desmentir as declarações de Bolsonaro. Uma delas, de forma risível. Bolsonaro afirmou que, além do Brasil, só Butão e Bangladesh, usam esse tipo de urna, sem o voto impresso. Quis dizer que quase ninguém usa. O TSE disse que, além do BBB, parte do eleitorado da França, assim como parte do eleitorado americano usam a urna. Confirmou Bolsonaro: quase ninguém usa.
A outra falácia do TSE diz respeito a auditoria realizada por empresa a pedido do PSDB, inconformado com a derrota de Aécio Neves para Dilma Rousseff. Segundo o tribunal, a auditoria não apontou fraude. Meia verdade. Facilmente econtrável na internet, as notícias de então davam conta da declaração da empresa, segundo a qual o sistema da urna eletrônica não seria auditável, por não ter o voto físico.
Bolsonaro acusou os ministros do STF/TSE de agir politicamente e fora da lei. Moraes ameaçou com todas as letras que vai prender quem ousar disseminar fakenews nas eleições. Mas o que é fakenews, quem vai decidir o que é ou não é? Se não há tipificação desse crime no código penal, em qual artigo o ministro vai enquadrar o infrator para mandá-lo para a prisão? Pra quem já prendeu ilegalmente um deputado, a lei é só um detalhe.
Bolsonaro virou inimigo a ser combatido pela trinca do STF que também está no TSE. Em tempos normais, os juízes deveriam se considerar suspeitos. No limite, seriam suspeitos de parcialidade. O conjunto de confrontos verbais, a animosidade manifestada em diversas e reiteradas ocasiões seriam elementos que um advogado de razoável talento usaria para destruir o processo. Por muito menos, livraram Lula. Nem é bom falar nisso, né, Fachin?