Varejo facilita crédito para atrair consumidor de volta
O varejo vem adotando como estratégia facilitar acesso ao crédito e até mesmo ressuscitar o carnê.
Com o poder de compra das famílias brasileiras limitado pela queda na renda e inflação, o varejo vem adotando como estratégia facilitar acesso ao crédito e até mesmo ressuscitar o carnê. Para Eduardo Yamashita, diretor de operações da Gouvêa Ecosystem, as grandes redes entenderam que é preciso criar um ambiente mais favorável para que os consumidores, principalmente as de baixa renda, possam voltar a adquirir bens duráveis e semiduráveis, que possuem maior valor.
No cenário atual, em que a renda está comprometida com itens básicos, o acesso ao crédito é a única forma de favorecer o consumo. Entre as principais mudanças estão a possibilidade de parcelar compras no ecommerce sem necessidade de cartão de crédito, bem como a ampliação da quantidade de parcelas.
“Se o varejista não criar facilidades e alternativas, o consumidor vai postergar a compra e deixar de consumir. O que estamos vendo é que as empresas varejistas que têm controle de sua carteira de crédito estão começando esse movimento.”
Na segunda-feira (18), a empresária Luiza Trajano, do Magazine Luiza, apareceu em um vídeo divulgado por WhatsApp a 5 milhões de clientes para divulgar que a empresa vai oferecer crédito pré-aprovado para pagamentos feitos também no carnê.
Cerca de 10 milhões de pessoas são elegíveis, segundo a empresa. Desse total, 80% da base de pré-aprovados são de crédito no Cartão Luiza e o Magalu Card, e os 20% restantes são para o carnê. De acordo com a empresa, a ação acontece em meio a um cenário de grande escassez de crédito para o consumidor final. “O intuito é aumentar o volume de crédito concedido de forma consciente.”
Atualmente, o crédito direto ao consumidor corresponde a 6% das vendas do Magazine Luiza, enquanto as compras no cartão somam 40% do total nas lojas físicas.
A rede Casas Bahia também aposta na estratégia. Neste ano, a varejista lançou um carnê digital, que possibilita o parcelamento de compras no marketplace sem necessidade de cartão de crédito e com possibilidade de parcelamento em até 24 vezes. O pagamento das parcelas pode ser realizado pelo BanQi, conta digital das rede.
Segundo a Via, controladora das bandeiras Ponto e Casas Bahia, o crediário foi responsável por 14% das vendas no primeiro trimestre deste ano. A maior penetração foi nas lojas físicas, com participação de 25% das vendas, enquanto no ecommerce essa faixa foi de 6,3%. As informações estão no relatório de resultados do primeiro trimestre de 2022.
“Nossa expertise em dar crédito via crediário segue como uma ferramenta para o aumento de rentabilidade no canal online e de oportunidade de compras online, principalmente para a população que não tem acesso a crédito,” afirma a empresa no relatório.
Pesquisa feita pelo SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) e pela CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas), estima que 22,9% dos consumidores ainda utilizam o crediário.
De acordo com Merula Borges, especialista em finanças da CNDL, apesar de a modalidade ter perdido espaço, ela continua presente nas grandes varejistas –a diferença é que o carnê de papel está dando espaço para o boleto eletrônico. Entre os que compraram no crediário, 61,2% fizeram pelo cartão da loja. Além desses, 48,3% utilizaram o carnê. “Ele se atualizou. Muitas lojas oferecem opção de parcelamento por meio do cartão próprio da loja, que não pode ser usado em outro lugar. Isso continua sendo uma forma de crediário”, diz.
Além do crediário, outras varejistas oferecem opção de parcelamento estendidas em compras feitas com cartão da própria loja. É o caso do Carrefour, que permite o parcelamento em até 24 vezes sem juros nas compras de determinados produtos, tanto nas lojas quanto no site. A Americanas, por sua vez, oferece opções de parcelamento em até 21 vezes sem juros pelo Cartão Ame.
Fonte: O Estado-CE