Ninguém escreve ao coronel

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A elite da elite brasileira, encabeçada pelo baronato paulista, como diz Ciro Gomes, resolveu escrever uma cartinha para Bolsonaro. Esse presidente que, segundo a mídia, não tem vocação para a democracia. Embora a redação tenha sido produzida numa faculdade, a iniciativa foi gestada pela poderosa federação das indústrias de São Paulo, comandada pelo filho de quem foi o vice-presidente de Lula. Com o apoio ostensivo da mídia, e dos órfãos da Rouanet, juntou a força-tarefa da oposição ao chefe do Executivo. A pretexto de se contrapor às declarações de Bolsonaro a favor de mais transparência no processo eleitoral, o documento seria uma defesa da democracia que estaria sob risco. A oposição epistolar é a mais nova estratégia para desgastar o presidente. Resta saber se os destinatários serão embalados pelo mesmo sentimento dos remetentes.

Sem que haja aderência nas tentativas de imputar ao governo algum escândalo de corrupção, depois do esforço em vão de apresentá-lo como causador da pandemia, com a total inconsistência do relatório da CPI da Covid, que levou a PGR a pedir o arquivamento das denúncias, sem que o debacle na economia tenha atingido sua popularidade, eis que surge mais um elemento para tentar alavancar Lula.

Bolsonaro disse que não precisa de uma cartinha para defender a democracia. Disse que até assinaria o documento se não tivesse identificado ali uma peça publicitária de campanha política contra ele, em pleno período eleitoral. Da mesma forma, a oposição se engajaria no movimento por transparência nas urnas não fosse a narrativa de servir de justificativa para não aceitar o resultado eleitoral adverso.

Fizeram alarde com a quantidade de signatários, para dar a crer que não é apenas a bolha da elite. Mesmo se for 300 o número de assinatura, ainda assim será irrisório, pois quem pode se opor à democracia?. O principal termômetro da democracia é a liberdade de expressão, imprensa livre, funcionamento das instituições e eleições legítimas. Com três anos e meio de governo, houve ofensa a essas entidades?

A mídia abdicou da objetividade e virou militância, com ataques diários ao presidente, e não houve retaliação. Alguém aí se lembra de que Lula quis expulsar o jornalista Larry Rohter, correspondente do New York Times, em 2004, só porque o chamou de cachaceiro? Mas dizem que quem ataca a imprensa é Bolsonaro. Ataque mesmo veio do STF, que censurou e fechou veículos, baniu das redes sociais e até prendeu jornalistas.

As instituições estão a pleno vapor, uma delas até hipertrofiou. Trata-se do STF, que usurpou prerrogativas dos demais poderes, tanto do Executivo quando do Legislativo, arvorando´-se em poder moderador. A expressão chegou a ser vocalizada por um dos ministros da corte em evento internacional. Mas o antidemocrático é Bolsonaro. A retórica presidencial pode até assustar, mas não há um ato sequer de governo que seja antidemocrático.

Do outro lado, ninguém vê ameaça à democracia, mesmo com a folha corrida do mensalão e petrolão, condenação e cadeia. Ainda agora, Lula disse que o impeachment da Dilma foi golpe, imputando crimes às instituições. Um instrumento constitucional, aprovado na Câmara, em julgamento do Senado, sob a presidência do STF. Mas a carta está no correio de Bolsonaro. Nenhuma missiva para Lula. Como diz um título de livro de Gabriel Garcia Marques, ninguém escreve ao coronel.

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