Bolsonaro solta os cachorros

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Mentiroso, criminoso, perseguidor. Quem, até pouco tempo, poderia imaginar que essas palavras foram proferidas por um presidente da República dirigidas a ministros do Supremo Tribunal Federal? Também jamais se imaginou um tribunal com tanto ativismo judiciário, a ponto de usurpar prerrogativas de outros poderes, incluindo o Ministério Público, que não pertence a nenhum poder. Se a liturgia do cargo impõe mais comedimento ao chefe do Executivo, de igual modo se exige dos juízes só falarem alto nos autos. Todo dia, há um discurso político do presidente do TSE, com farpas contra o mandatário. Bolsonaro é provocador, mas é político com mandato popular. Diferentemente, os togados não são escolhidos pelo povo e têm suas funções delimitadas.

No início desta semana, numa entrevista à rádio Guaíba, de Porto Alegre (RS), Bolsonaro disparou todo seu arsenal bélico contra juízes. Ao presidente do STF, Luiz Fux, a quem chamou de equivocado, que deveria estar no inquérito das Fakenews, “se fosse sério”, por dizer que o sistema eleitoral brasileiro era um dos melhores do mundo. “E por que ninguém usa?”, questionou Bolsonaro, lembrando que apenas três países, Brasil, Bangladesh e Butão, usam as urnas de primeira geração.

Ao lembrar que o inquérito de Alexandre de Moraes não é sério, Bolsonaro, que já o chamara de canalha no último 7 de setembro, acusou-o de persegui-lo de forma implacável. Tanto que a procuradora Lindora Araújo, braço de direito do PGR Augusto Aras, pediu o arquivamento do inquérito que Moraes queria manter vivo. Ele chegou a violar o sistema processual acusatório, desenhado pela Constituição, que afirma ser a PGR o titular da ação. Moraes agiu de ofício ao pedir mais diligências.

Para Barroso, outro desafeto, coube o epíteto de mentiroso, pois Barroso disse na época da votação da PEC do voto impresso, e repetiu agora fora do Brasil, que estavam querendo a volta do voto em cédula. Contra isso, Barroso não teve como se defender, mas retrucou em relação ao fato de ter trabalhado no Congresso para mudar o voto de parlamentares. Barroso disse que esteve lá a convite, o que não impede de ter cabalado voto. Tanto que, em seguida, líderes partidários substituíram parlamentares nas comissões.

Do outro lado da Praça dos Três Poderes, não se fala em trégua, também não há temperança, nem no falar nem no agir. Até as mais recatadas, como Carmem Lúcia, já falou em desgoverno. O velhinho, então decano Celso Melo, chegou a comparar o governo ao nazismo. E agora, na condição de aposentado, defende insurgência contra Bolsonaro. Com esse ímpeto, tangido pela vaidade de quem busca holofote ou pela senilidade, deve ser um dos signatários da carta pela democracia.

O mais provocador dos ministros, que fez campanha política para Dilma Roussef, o presidente do TSE, Edson Fachin, com discurso bolorento e frases rebuscadas, disse que vivemos um recesso democrático. Não deixa de ter razão. Há, sim, indícios de autoritarismo na retórica presidencial. Mas os atos administrativos que se assemelham aos de uma ditadura são quase todos assinados nos gabinetes de ministros que se acham tão supremos quanto a entidade que desonram.

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