A moto, o carro, o acidente e a falta do capacete

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Sobralito queria entender como um item tão importante é deixado de lado na hora de pilotar uma moto.

No final da tarde, quando a sineta soou pelos corredores da escola, Sobralito não perdeu tempo e voou para aguardar o ônibus escolar. Outras crianças, também, se esforçavam, quando o coletivo chegou, para pegar as cadeiras das janelas. Era uma luta diária e divertida, tanto na ida à escola, quanto na volta para casa.

No meio do trajeto, os alunos foram surpreendidos com um acidente de trânsito. Uma das vias da pista estava bloqueada por um grupo de pessoas que, assustadas, acompanhavam o desenrolar do atendimento do SAMU. Enquanto os paramédicos tentavam acalmar as duas vítimas e fazer a remoção dos feridos para o hospital, Sobralito percebeu que a cena, de certa forma, era bem comum na cidade: uma batida entre um carro e uma motocicleta. Buzinaço! Gritaria e confusão.

Ao olhar pela janela, enquanto o motorista manobrava o ônibus para tentar sair daquele engodo, Sobralito identificou os acidentados. Márcio, seu vizinho, trafegava com a mãe, quando houve a batida. De longe, Sobralito viu a cara de dor do menino, enquanto era colocado na maca, coma cabeça sangrando. Do outro lado, a mãe, também, se esforçava para se manter firme; mas o olhar meio perdido e a expressão de medo não passavam despercebidos.

Ao lado da pista, o condutor do carro, com os documentos nas mãos e ar de preocupação, era interrogado por Guardas Municipais, enquanto o povo, de celular em punho, registrava toda a cena: a moto retorcida e o carro com o capô parcialmente amassado.

Para fechar a cena, típica de acidente, blogueiros se posicionavam buscando o melhor ângulo para suas ‘reportagens’. Aos poucos, o ônibus conseguiu passar, aproveitando um espaço da pista, parcialmente liberado. Da janela, também buscando um bom ângulo do caos, Sobralito já filmava tudo para expor no seu podcast.

Ao chegar em casa, o menino correu para dizer à dona Eulália o que havia ocorrido no trajeto. A mãe se espantou, e quis saber dos detalhes, enquanto passava um café para tomar com tapioca.

—Mãe, eu fiz uma pesquisa para o podcast, e descobri que todos os anos muitos acidentes de trânsito são causados na cidade. O pior, é que a maioria tem o envolvimento de motos, e muita gente estava sem o capacete na hora do acidente. Já pensou?

Perguntou o menino com ar de preocupação. Ao que dona Eulália apenas suspirou ao lembrar que, ela mesma, já havia passado por essa situação, ainda jovem, e vindo de uma festa com duas amigas na mesma motocicleta, no final da madrugada. Tempos de aventuras aqueles…

À noite, de frente para a TV, Sobralito assistiu a reportagem sobre a batida, usado como ponto de partida para falar do número assustador de acidentes de trânsito, envolvendo motociclistas, e o número de vítimas que estavam sem o capacete. A maioria, moradora de cidades do interior. Sobralito buscou mais informações nos blogs da cidade, e foi dormir pensando em visitar o amigo no hospital, no dia seguinte. O menino abriria um debate em suas redes sociais sobre o não uso do capacete e a falta de noção das pessoas que se arriscam dessa forma.

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