Sobralito contra a varíola dos macacos

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Em sua redação, o menino, se imaginava como um cientista em busca da cura.

Assim que o recreio terminou, Sobralito correu para a sala de aula. O dia era de redação, e o menino era fera em contar, descrever, e recontar estórias. Com a cabeça cheia de ideias, só faltava mesmo a professora dar o sinal. Aos poucos, a criançada voltava do corre-corre do pátio e começava a relaxar o corpo para mais duas aulas, as últimas do dia.

Dona Zica entrou na sala, toda falante, como sempre, e logo começou a questionar a criançada sobre os temas a serem tratados naquele dia.

— Então, minha gente, o que temos para hoje? Quais os temas que vamos mostrar nas redações? Como vocês sabem, eu gosto de deixar ao critério de vocês as escolhas sobre o que escrever. O bom é deixar a criatividade fluir, escapar pelas mãos e descer até o papel em branco. É lá que a aventura se desenrola. Olha, que poético?

Perguntava a professora, com ar de quem buscava extrair até a última gota de ideia daquelas cabecinhas curiosas e esgotadas do recreio.

— Pois bem, cinco minutos para debaterem os temas e 25, para a escrita. Juntem as cadeiras, sem arrastar. Qualquer dúvida estarei aqui, no quadro, preparando o restante da aula; então, lá vamos nós…

Dona Zica, como era metódica, gostava de cronometrar as atividades mais livres, como a redação, por exemplo. Então, ao finalizar a frase, o tic-tac de um relógio digital, antigo, posto sobre a mesa, dava início ao trabalho.

As estórias poderiam ser reais, inspiradas ou puramente ficcionais. E Sobralito, simplesmente, adorava contar coisas do cotidiano, do que via na TV ou na internet. Então, o tempo apertou o passo, e logo os temas começaram a ser colocados para debate, discutidos, acertados e confirmados pela professora que, com um prazer quase infantil gritou: ‘o tempo acabou, minha gente!’, seguida do triiiiiiiiimmmmmmmmm, agudo do relógio.

Sobralito começou a escrever. Ele sempre começava pelo texto. Só colocava o título quando já estava tudo no papel, escrito e corrigido, ao final de uma leitura com olhos de lince. Aprendera com a mãe, dona Eulália, que adorava caçar palavras e ler velhos livros de bolso. Os de aventura e policiais eram os melhores, ela dizia.

Ao aventurar-se pela folha em branco, Sobralito lembrou da pesquisa que ele havia feito para o seu podcast daquele dia: ‘Depois da Zika, Chikungunya, dengue, e a covid-19, agora era a vez da varíola dos macacos entrar em cena no Brasil’. A doença, também se instalara em sua cidade fazendo uma primeira vítima, já em tratamento.

Com essa ideia na cabeça, aos poucos vieram um, dois, três, parágrafos de uma aventura em que o menino se imaginava como um cientista que desenvolvera uma vacina contra a infecção, em tempo recorde; antes mesmo, que a preocupação se espalhasse por sua cidade. Mas fora dali, inclusive na Capital, a história era outra.

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