A dor de dente e o posto de saúde
Sobralito encarou o desafio de ser atendido pelo dentista do Bairro, mas a dor de dente seria apenas um dos problemas naquele dia.
Dona Eulália acordou, naquele 1º de setembro, com o gemido de dor de Sobralito. O menino já havia reclamado de uma dor de dente no dia anterior, mas não foi levado muito a sério, porque, minutos depois, estava batendo uma bola com os amigos no final da rua, onde montavam duas traves de chinelos e, geralmente, finalizavam suas tardes.
Mas naquela manhã, a dor se intensificara e a situação do menino parecia ter piorado. Sem perder tempo, dona Eulália tomou um café reforçado e insistiu que o menino comece algo, até por que não sabia quando estariam de volta. Ir ao posto de saúde, ainda mais, para ver o dentista, não era uma tarefa das mais simples.
Por das 7 horas, os dois montaram num mototáxi e partiram rumo ao posto de saúde do Bairro Alto do Cristo, onde moravam. Sobralito não parava de reclamar, pois a dor de dente já chegada ao auge. Não demorou, e a dupla chegou ao posto. Mas o que demorou, mesmo, foi o atendimento, pois o lugar estava lotado.
Mesmo com a situação de emergência, como disse a pessoa que recebeu os dois, Sobralito ficou por cerca de uma hora e meia para passar pela triagem, que consistia na verificação da pressão, pesagem e outros procedimentos.
— Mãe, tá doendo!
O menino não parava de gemer, com a bochecha inchada, coberta por um lenço. Mas a saga se prolongaria, ainda, por um tempo que a mãe de Soberalito já previra; daí o café reforçado.
Os dois esperaram e esperaram, após terem colocado o nome do menino em um cadastro.
— Maria de Jesus Soares!
Gritou a atendente, lá no fundo do corredor, onde ficava o consultório do dentista.
Enquanto aguardavam, Sobralito sempre atento, passou a ouvir uma reclamação aqui, outra acolá, de pessoas que aguardavam serem chamadas. Mas o nome do menino, nada.
— Isso é um absurdo. Essa é a terceira vez que eu trago um exame para o médico ver e não consigo.
Disse uma senhora, com uma papelada na mão, enquanto ouvia da atendente que o médico não viria naquele dia.
— Moça, quando eu vou conseguir meu encaminhamento para minha consulta? Faz tempo que estou aqui e não sou atendida.
Reclamava outra dona de casa, enquanto o tempo passava e o posto enchia de gente.
Lá pelas tantas, Sobralito deixou a dor de lado, apontou o celular para outra senhora, que também reclamava, e começou a gravar tudo o que era reclamação. Enquanto o pessoal esperava para ser atendido, uma fila já se formava em direção àquele menino com um celular na mão, uma senhora dor de dente e uma ideia na cabeça: registrar a angústia de pessoas que buscavam atendimento médico no posto do Bairro, como ele, em mais uma quinta-feira qualquer, pra lá de ensolarada em Sobral.