Só sei que nada sei: sobre as pesquisas eleitorais (Parte I)
Se tem uma coisa que nós das humanas respeitamos são os números. Talvez, por certa inabilidade que geralmente temos com eles ou por fazer parte do universo da matemática que, dentre as ciências existentes, é a única conhecida como exata.
Todavia, quando alguns desses números invadem a esfera das ciências humanas, como a política, por exemplo, me parece que a coisa começa a desandar. Por sinal, acho incrível esta capacidade que uma parte da política tem (aquela ligada a politicalha, que é a política praticada por canalhas) de emporcalhar tudo que dela se aproxime.
As pesquisas eleitorais existem há mais de 100 anos, mas foi a partir dos anos 1960, principalmente, que as pesquisas passaram a ser cada vez mais utilizadas.
A pesquisa eleitoral é essencialmente pesquisa de opinião pública, que é a investigação sistemática de informações por meio de perguntas em um questionário destinado a coletar opiniões, comportamentos, valores, atitudes e hábitos das pessoas de uma amostra da “população”.
No entanto sempre fica a pergunta no ar: Como pode uma pesquisa de 2.000 pessoas estimar os votos de 156 milhões de eleitores? Se meu candidato consegue atrair multidões na rua, como ele fica para trás nas pesquisas? Por que os resultados das eleições nem sempre correspondem ao que essas pesquisas indicam?
Ao contrário do que o senso comum pode sugerir, as pesquisas eleitorais não são usadas para prever resultados das eleições. O objetivo dessas pesquisas é simplesmente avaliar as intenções de voto durante a realização de entrevistas. Como os eleitores podem mudar de ideia antes de irem às urnas, não há garantia de que uma pesquisa feita meses, semanas ou mesmo dias antes seja igual ao cálculo da justiça eleitoral.
Pesquisas sérias sempre informam o perfil da amostra. É possível checar essa composição no site do TSE, no qual os institutos precisam registrar o questionário que será aplicado antes de ir a campo. Para que esse grupo represente bem todo o universo de eleitores é preciso que ele reproduza a composição e a distribuição do eleitorado.
Após a definição do perfil da amostra, as pessoas entrevistas são selecionadas aleatoriamente, justamente para evitar viés para algum candidato. Por isso, os locais de aplicação dos questionários são definidos por sorteio.
Além de atentar para a composição da amostra e a escolha do local de estudo, essas instituições possuem regras para evitar qualquer viés na forma como as entrevistas são realizadas. As perguntas sobre a intenção de voto devem ser feitas de forma neutra, em vez de direcionar as respostas para um ou outro concorrente. E os nomes dos candidatos não podem estar em uma ordem fixa, pois o primeiro da lista tende a ser o preferido.
Especialistas afirmam que as pesquisas eleitorais fornecem um retrato instantâneo do momento. Eles refletem qual seria o resultado se a eleição acontecesse ao mesmo tempo que a pesquisa. No entanto, muitos eleitores mudam de ideia antes do dia da eleição, e alguns até decidem o próprio dia da votação. Consequentemente, espera-se que os resultados da votação mudem ao longo da campanha e possam diferir dos resultados finais da votação.
Um fator que explica as diferenças entre as pesquisas e o resultado oficial é o fenômeno do “voto útil”, em que as próprias pesquisas influenciam o rumo dos votos. Isso ocorre, por exemplo, quando eleitores que votariam no candidato A, mas rejeitam fortemente o candidato B, entendem pelas pesquisas que é o candidato C que tem mais chances de derrotar o B. Com isso, acabam migrando seu voto do A para o C.
Portanto, para saber se uma pesquisa é confiável, é inútil comparar seus resultados com o saldo final da pesquisa. Especialistas aconselham os eleitores a procurar comparar pesquisas de diferentes agências, pois a tendência é que pesquisas bem feitas por diferentes empresas mostrem cenários semelhantes na direção da intenção de voto.
Por outro lado, quando uma instituição de pesquisa traz resultados muito “desatualizados” ou completamente “fora da curva” ou incondizente com a realidade, em relação a outras, é sinal de que algo pode ter dado errado na investigação.
Mas o que tem acontecido com as pesquisas no Estado do Ceará? Só sei que nada sei.
É sobre isso que abordaremos na próxima semana.