Educação de Sobral está em queda desde 2019

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Os índices do Ideb, divulgados a cada dois anos, apontam o quanto o município segue em baixa, comparado a outros. Sobral, que já ostentou a melhor nota do Brasil, já não figura entre os melhores nem mesmo em comparação com os municípios vizinhos.

Desde 2015, quando a Educação de Sobral atingiu a melhor nota do Ideb entre os municípios brasileiros, ela tem sido apresentada como referência nacional e internacional de excelência e resultados efetivos. Os aplausos, de todos os lados, são replicados, e a fórmula dourada é contada e recontada em jornais, revistas e programas voltados à Educação. Grupos de profissionais da área, de toda parte do Brasil e, até de fora do País, viajam ao município, de pouco mais de 200 mil habitantes para ver de perto toda a maravilha que é a gestão educacional.

Esse cenário mudou a partir de 2017, quando o desempenho entrou em declínio. De primeiro lugar, desceu para o décimo. A nota, que era a máxima em 2019, média de 9,1, desceu para 8, 4. Na última edição, 2021, o município já não figurava entre os dez melhores. Com nota 8, o Sobral já não era o melhor do Nordeste, nem do Ceará. Nem mesmo da Zona Norte do Estado que aparece com seis cidades entre as 10 de melhores notas: Mucambo, Frecheirinha, Jijoca de Jericoacoara, Pires Ferreira, Cruz e Catunda.

Questionar os dados, colocar os números em perspectiva, tentar analisar tecnicamente os resultados apresentados seria uma atitude considerada até leviana para muitos que não admitem pesquisar índices pondo de lado as emoções, ainda mais quando se fala em Educação de qualidade e mensurável, em um País que, segundo pesquisas do Ministério da Educação, possui cerca de 16 milhões de analfabetos, pessoas que não conseguem sequer escrever um bilhete. Já os que não chegaram a concluir a 4ª série do Ensino Fundamental I, destaca o MEC, somam 33 milhões, concentrados em 50% nas regiões Norte e Nordeste.     

Por aqui, é certo que, até 1997, o município cearense encravado no Vale do Acaraú, no Norte do Ceará, enfrentava um gigantesco problema estrutural na educação pública. Altas taxas de abandono escolar, grande distorção idade-série dos alunos eram alguns dos problemas que, aliados à ineficiência da gestão pública e baixa oferta de professores habilitados, formavam um cenário desolador e representativo da realidade de diversos municípios brasileiros.

Ideb de 2017 mostra Sobral em 1º (Fonte: Ideb).

Frente a esse cenário, o município iniciou uma reestruturação da gestão educacional que deixaria marcas positivas a longo prazo. Nessa época, foram realizados os primeiros concursos públicos para professores e houve uma ampla oferta de formação superior para os professores sem habilitação. Já em 2001, a gestão municipal colocou como meta a erradicação do analfabetismo infantil. Adotou-se um vigoroso sistema de monitoramento, tanto dos alunos como dos professores, e um sistema de remuneração por meritocracia.  

A partir de então, uma série de ações construíram as bases educacionais em Sobral. O sistema de avaliação municipal, chamado de Avaliação Externa, foi ampliado para todas as séries do ensino fundamental; criou-se o Plano de Cargos e Remuneração (PCR) do magistério municipal, definindo um plano de carreira e remuneração de acordo com o rendimento de cada professor. A educação infantil (4 a 5 anos) foi universalizada e o atendimento em creches cresceu em 47%.

Todo esse levantamento é do Índice de Oportunidades da Educação Brasileira (IOEB), que aponta todas as conquistas e mérito do município no que se refere a sua revolução educacional, que inspirou a criação de iniciativas como o Programa de Alfabetização na Idade Certa no Ceará (Paic), com o objetivo de alfabetizar crianças, até o 2º ano do Ensino Fundamental em todo o município. O resto da história segue numa esteira de sucesso incomparável até aqui, o ano de 2022; ou será que não? Vamos analisar alguns gráficos comparativos divulgados pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

Ideb de 2019 com Sobral na 10ª posição (Fonte: Ideb).

Em 2011, na primeira edição do Ideb, Sobral já se destacava com a nota 7,3. A contagem, feita a cada dois anos, traz resultados em franca subida para o município: 7,8, em 2013; 8,8, em 2015; e o ápice, em 2017, com 9,1 pontos, a maior nota do Brasil. Mas a partir desse ano, os números entraram em uma queda vertiginosa: 8,4 (2019); e 8 pontos, em 2021. É inegável que o trabalho de mudar a realidade de uma Educação leva tempo, e colher esses frutos, mais tempo ainda. Outro fator que pesa, é quanto a gestão à frente das iniciativas, que podem, numa analogia simplista, fazer o bolo crescer, ou deixa-lo murchar, ainda no forno. Que é o que vem ocorrendo.

Se olharmos, a partir do primeiro ano de Ideb, a transição entre os prefeitos à época, Leônidas Cristino e Veveu Arruda, mantém Sobral ascendendo em números, chegando ao ponto máximo, ainda na gestão Veveu Arruda (2017), quando ocorre uma nova passagem de poder. Entra em cena Ivo Gomes, hoje em sua segunda gestão. Na divulgação dos dados, a Prefeitura publica em suas redes sociais o último resultado do Ideb (8 pontos), e alega que ainda é o maior do Brasil, mas comparado a municípios com 50 mil habitantes no Ceará (6,3) e no País (5,8).

As dez melhores escolas do Brasil estão no Ceará. Nenhuma, de Sobral (Fonte: Ideb).

A queda no ranking nacional e, até regional, fica ainda mais visível quando os índices de Sobral são comparados com cidades a partir de 100 mil habitantes. Na lista dos 12 municípios brasileiros com melhor desempenho da educação municipal nos anos iniciais do Ensino Fundamental (4ª Série/5º Ano) em 2019, Mucambo (cidade da mesma região de Sobral) aparece em 1º, com 9,4 pontos, seguida de Independência, também no Ceará (9,1). As outras cidades cearenses que vêm em primeiro são Milhã (8,7), Martinópole (8,6) e Pires Ferreira (8,5). Aqui, Sobral amarga a 11ª colocação.

Já no ranking de 2021, com os números do 5º Ano do Ensino Fundamental, Sobral sequer aparece na lista dos 10 municípios do Brasil que se destacaram, como os seis primeiros, além do 8º e do 10º, todos cearenses, que são Ararendá (9,5); Mucambo (9,4); Frecheirinha (9,2); Jijoca de Jericoacoara (9,1); Pires Ferreira (9,1); Cruz (9,0); Novo Oriente (8,9); e Catunda (8,8).

Ainda em 2021, o Ideb divulgou, também, a lista com as 10 melhores escolas do Brasil para alunos do 1º ao 5º Ano. Todas são cearenses; com destaque para o município de Massapê, que aparece em 1º, seguido de Pires Ferreiras, na 2ª e 3ª colocação (os dois também do Norte do Ceará). Sobral, também, não está nesta lista. Os números mostram a realidade atual do ensino de Sobral; a queda, inegável que não pode ser, simplesmente, ocultada com comparativos que não apresentam os fatos.

O próximo levantamento do Ideb será realizado no ano que vem. A consulta aos resultados dos índices é aberta, acesso pelo site do Inep e contrapõe à imagem que ainda se tenta passar para o País e o mundo, de um município que encontrou, e vende, a fórmula dourada da tão desejada educação permanente de qualidade.   

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