O sufoco da Santa Casa
Sobralito e a população lamentavam a queda de braço, entre a Prefeitura e a Santa Casa de sua cidade, num impasse onde todos perdem.
Ao ouvir no rádio que a Santa Casa de Sobral entrava em situação de possível intervenção, por parte da Prefeitura, Sobralito não perdeu tempo e ligou para o tio mototaxista. A ideia era tentar alguma informação para o seu podcast na frente do hospital. Havia um burburinho na cidade sobre uma possível manifestação dos profissionais de saúde e de representantes da Secretaria da Saúde do Município. Os blogs ficaram em polvorosa.
Poucos minutos depois, o menino descia da moto, em frente à unidade de saúde, com uma série de recomendações do tio, para que tomasse cuidado e não se metesse em confusão de adultos. Enquanto a moto partia deixando para trás uma leve cortina de fumaça, Sobralito correu para a entrada do hospital em busca de entrevistas.
– Oi, moça, pode falar aqui para o meu podcast? O que está acontecendo hoje aqui no hospital? Por que tanta correria?
Sem pensar muito na situação, a técnica de enfermagem que entrava no hospital respondeu apressada.
– Depois de tanta confusão, esperamos que alguma solução seja adotada. Queremos o repasse do dinheiro enviado pelo Ministério da Saúde ao hospital, que foi devolvido pela Prefeitura. Já entrou, até, juiz nessa história, mandando que seja entregue o recurso. Só sei que nessa briga, todo mundo perde: o hospital, eu e você.
Finalizou a jovem, com um ar de tristeza sem tamanho, e entrando às pressas no hospital, ainda com cara de “nem sei porque falei com esse menino, nem por que me expus tanto, de frente para um celular, sem saber, ao certo, até aonde essa tal entrevista vai chegar”.
Pensava, enquanto corria para o seu setor.
Depois de algumas conversas daqui e dali, Sobralito encerrou o podcast, e lembrou que tinha um trabalho sobre ciências para finalizar. Enquanto ligava para o tio mototaxista para pegá-lo, o menino lembrava, também, que nascera ali. Que sua mãe contava e recontava o dia do parto, a espera de sua chegada e como foi bem acolhida pela equipe médica. Sem falar, em todas as amigas mães, que deram à luz no hospital
História, também, de tantas outras mulheres e pessoas em tratamento de todo tipo, que passaram pelo hospital e lamentavam pela queda de braço, entre a Secretaria de Saúde e o hospital de referência na região. Essas pessoas a qual o serviço foi criado e dependiam tanto da saúde pública.
Uma pena! Reconhecia Sobralito, enquanto subia na moto, de volta pra casa.