Pintou um clima entre Lula e Bolsonaro
Nunca vi uma campanha de tão baixo nível. Talvez tenha sido a frase mais verdadeira de Lula durante o debate na Band do último domingo (16/10). A outra do mesmo nível de sinceridade foi a que reconheceu a roubalheira na Petrobrás, em seu governo: “Quem roubou, foi preso”. Até pensei que, enfim, confessara o roubo e fazia mea culpa. Mas, tal como dos psicopatas, não se pode esperar de Lula nem mesmo uma meia culpa.
Ao falar do baixo nível de campanha, Lula estava apontando para o outro púlpito, desconsiderando que a campanha mais abjeta, o nível mais nojento, escorria pelos esgotos das artérias petistas. Era mais uma mentira de Lula, que, se não mente, perde a essência. A chamada propaganda maldita está sendo usada a exaustão nas hostes petistas. O partido, que sempre foi vítima dessas bruxarias, virou algoz.
Na fundação do partido, sua fase romântica, a sigla dizia participar das eleições sem fazer coligações, mesmo com ínfima possiblidade sucesso, para conscientizar o povo. Na fase de cleptocracia, o PT passou a admitir que faria o diabo para ganhar as eleições. Chegou agora a fase canalha, em que os princípios são sacrificados para manter o culto ao deus ladrão. E partiu para o vale tudo, sintoma de que cantaram muito cedo a vitória, que parece se distanciar.
A propaganda negativa é controversa entre os marketeiros, e usada com parcimônia, de forma comedida. Geralmente, para reverter uma situação de derrota iminente. Mesmo quando usada, é feita de forma dissimulada, sem assinatura, ou de forma mais anônima possível, porque tem potencial de aumentar a rejeição de quem a produz. Um das táticas é terceirizar o ataque, usando mercenários, como o PT está fazendo com o deputado André Janones.
O deputado, ex-petista, é um canalha com todas as letras, em maiúscula, sem limite ético. Ele foi aceito pelo partido, mesmo com alguns membros tapando o nariz para fugir do cheiro fétido que exala pelo halo do parlamentar mineiro. Já virou verbete do dicionário político: janonismo cultural. De tão vil, gaba-se de disseminar fakenews. Quando alcançado pela tardia Justiça, ele debocha: vou apagar aqui, mas já viralizou, o mal está feito.
O arsenal de notícias falsas ou deformadas agradou a cúpula partidária, pelos efeitos que poderia produzir nos adversários, também pródigos em fakes. Mas Janones é de outra categoria. Achou pouco dizer que Bolsonaro acabaria com o Auxílio Brasil, que confiscaria poupança, que era genocida. Como nada disso impedia a reação do candidato nas pesquisas, resolveu apelar de vez.
Cascaviou um vídeo antigo, do tempo de Bolsonaro deputado, para tentar provar que Bolsonaro como carne de gente, o Bozo é canibal. Quem sabe, aquela resposta de Bolsonaro a uma pergunta sobre a finalidade de seu apartamento funcional, fosse mesmo literal: “Para comer gente”. Foi usada com destaque na campanha do PT. O próprio Lula reclamou do TSE por tê-lo impedido de continuar veiculando a nojeira.
Talvez por ser o tema recorrente no cinema, com filmes de grande bilheteria e agora uma série de sucesso na NetFlix, não surtiu o resultado esperado. Ninguém acreditou que o presidente da República repetiria o mito da fundação nacional em que os índios teriam comido o bispo Sardinha. (Com esse nome, né?). Precisava de algo mais asqueroso. E veio.
Durante um podcast, Bolsonaro, o presidente das frases infelizes, relatou um passeio na periferia de Brasília em que ele descobriu umas adolescentes venezuelanas “arrumadinhas, bonitinhas”. Ao sair, pintou um clima, disse ele. E voltou para fazer uma live. O contexto era como se fosse um insight, de aproveitar o momento para denunciar a situação social e econômica do país de Maduro. Se estava na pandemia, elas não se preparavam para uma festa, talvez para se prostituir.
Pronto. A versão correu trecho nas redes sociais de forma intensa. Bolsonaro era o monstro pedófilo, o tiozão que explorava as novinhas. Era fácil incutir a narrativa no imaginário popular. Ao ver sua honra arder na fornalha das mídias sociais, Bolsonaro fez uma live na madrugada para explicar o contexto e repudiar o ato petista. E recorreu à Justiça. Até mesmo Alexandre de Moraes repugnou o ato em sentença.
Isso tudo demonstra a fragilidade e a insegurança que tomaram conta da campanha petista. Fizeram todos os esforços para ganhar no primeiro turno, pois seria muito difícil a disputa no segundo tempo. Com uma quantidade muito maior do que o esperado, Bolsonaro ameaça a vitória que eles imaginavam fácil. Lula já deve estar sendo comido pelas beiradas, daí o nível apelativo de suas peças. Triste é ver pintar esse clima até no jornalismo que se diz sério.
É óbvio que Lula não acredita que Bolsonaro seja canibal ou pedófilo. Os mais radicais poderiam ver uma indicação estranha no debate, quando Bolsonaro, bem mais alto que Lula, colocou a mão sobre o ombro do adversário: “Fica aqui, Lula”. Teria ali pintado um clima?.
Sem sucesso na propaganda maldita, resta a Lula desabafar com seus infames marketeiros, desferindo-lhes as mesmas palavras com que brindou a assessora nos bastidores do debate: “Você não sabe nada, porra!”