Sobralito e a manifestação pela paz
O menino e sua mãe acompanham o apelo público dos moradores do Jaibaras, que pedem por segurança.
Assim que saiu do colégio, Sobralito correu para casa. Naquela noite, ele e dona Eulália tinham algo importante para fazer. Logo que o menino chegou, os dois arrumaram o que era preciso e chamaram o tio do garoto, que era mototaxista.
Tão logo o tio chegou, Sobralito não perdeu tempo e subiu na garupa da moto. Os dois seguiram para o distrito de Jaibaras, a poucos quilômetros da sede de Sobral. Lá, minutos depois, encontraram dona Eulália, que descia de uma van, apinhada de gente.
Aos poucos, as pessoas iam chegando, de todos os lados. Além dos moradores, famílias de diversas partes se juntavam à multidão que se formava na praça central do distrito. Em pouco tempo, o burburinho já tomava conta de calçadas e da frente das casas. Logo, uma pessoa pegou um megafone e começou a falar o motivo de tanta agitação.
– Gente, obrigado pela presença de todos. Sei que depois de um dia de trabalho, vocês estão cansados. Mas é importante que a gente se una, mais uma vez, para chamar a atenção das autoridades. Ninguém aqui vai se cansar de repetir sempre que for preciso: chega de tanta violência. Chega de tanta morte, de tanta bala. Não sabemos mais a quem recorrer, para pedir por ajuda.
Dizia um pai de família, que havia perdido a filha, em um roubo de moto, seguido da morte da jovem. Outro pai e algumas mães, também, fizeram questão de contar suas histórias de dor e perda. Ali, não tiveram medo de mostrar a cara, de se deixar filmar e fotografar pela imprensa, que já disputava a fala de algum manifestante.
Enquanto a mãe de Sobralito desenrolava uma faixa que dizia “Chega de violência, queremos mais segurança”, o menino apontava a câmera do celular para gravar o início da caminhada pelas principais ruas e avenidas do pequeno distrito. Seria uma noite longa, onde pessoas compartilhariam um pouco da dor da perda de um familiar.
Enquanto dezenas de pessoas se posicionavam para dar destaque às muitas faixas e cartazes carregadas por jovens e adultos, os espaços públicos eram tomados por aquela gente que pedia por um serviço básico, que era a segurança. E apesar de estar presente na manifestação, a guarnição policial não se fazia muito presente no distrito, reclamavam as pessoas.
A falta de efetivo policial era uma das maiores reivindicações dos manifestantes. E enquanto a massa se movimentava, palavras de ordem eram ditas, e a Lua, discreta, acompanhava tudo, encoberta por nuvens escuras.