Lula eleito. E agora?
Não é apenas a volta da cleptocracia nem mesmo a mensagem geracional de que o crime compensa, é, sobretudo, o que será feito na economia a minha maior preocupação com a inédita terceira eleição de Lula. Outro ineditismo foi a derrota do presidente que tentava se reeleger, mas o mais preocupante é a diferença mínima entre os competidores da mais acirrada das eleições.
Lula obteve 60,3 milhões de votos, um pouco mais de 2,1 milhões que Bolsonaro. No entanto, mais de 96 milhões de brasileiros aptos a votar não sufragaram o candidato do PT. Além do mais, o povo mandou para o Congresso parlamentares de ideologia mais alinhada à de Bolsonaro do que de Lula. Não será fácil governar.
Sem a mesma energia, com mais de 76 anos, Lula terá grande desafio, principalmente na área social com impacto na economia. Bastou o resultado ser divulgado, para que o dólar subisse, e as ações da Bolsa caíssem, diante das incertezas que povoam a expectativa de seu governo.
É o coração, e não a razão, que move a eleição. Caso contrário, seria improvável até mesmo a candidatura de Lula, quanto mais sua vitória. O PT teve dois mandatários, cada um com um legado que ficou na memória. Os dois mandatos de Lula, a despeito da bonança internacional na economia, foram marcados por dois escândalos, de corrupção, os maiores da história: o mensalão e o petrolão.
Dilma Roussef, a primeira mulher eleita presidente, terminou o governo antes do tempo, apeada por um impeachment, que a antológica soberba do PT chama de golpe. Ninguém perde o poder dessa forma se o povo não estiver assolado por grave crise. Sem pandemia ou guerra que atingisse seu governo, Dilma registrou a maior recessão de todos os tempos da história brasileira.
Com um legado desses, em que todas as estrelas do partido tenham passado na cadeia por algum tipo de corrupção, e um dos maiores índices de desemprego, como justificar a vitalidade do partido? A bem da verdade, não é a sigla que é tão resiliente, mas seu líder, o único que restou, o encantador de serpente, na expressão de uma das víboras da política nacional.
Essa mesma entidade esticou ainda mais o pescoço para um prognóstico que salta à vista. Lula está baqueado. É visível a fragilidade física e intelectual daquele que desceu aos infernos da carceragem da PF em Curitiba para ressuscitar para política pelas mãos de Fachin, num embargo de declaração sobre competência territorial. Uma decisão equivocada, segundo Marco Aurélio Melo, que já foi do STF.
Não há mais energia para costurar apoios, não há mais instrumentos para aliciar parlamentares, o que será de Lula num país que aceitou a promessa de um salário mínimo de R$ 1.400,00 e um auxílio Brasil de R$ 600,00? Não há mágica, a não ser desobedecer o teto de gastos, como já deu a indicar, ou aumentar impostos. Mas ele também prometeu isentar de imposto de renda quem ganha até R$ 5.000,00. Cambaleia o equilíbrio fiscal.
Com tantos desafios pela frente, e pouca energia para enfrentá-los, além de estar fora do tempo, pensando o Brasil de agora com olhos do passado, esperamos que Lula se desapegue dos ressentimentos e não cumpra todas as agendas impostas por seus aliados ideológicos, como a regulação da mídia, que seria a institucionalização da censura. Dentro de um cenário de polarização em que uma falange chamou a outra de gado, esperemos que o castigo não venha a cavalo.