A facada de Cid em Elmano

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Ciro Gomes acusou Camilo Santana de o ter traído em troca de cargos. Em vez de 40 moedas, o senador eleito teria abandonado o chefe da clã sobralense por simples carguinhos. E não se pode entender o MEC como um ministério irrelevante. Noves fora a procissão de traidores, incluindo os manos, que se bandearam para o sedutor de serpentes, os Gomes agora estão lutando com unhas e dentes por carguinhos na esfera estadual.

Sem compreender exatamente a sua dimensão política, o senador Cid Gomes, ex-todo-poderoso na política cearense, não se conforma com a nova realidade. E passou a pugnar, se não a exigir, por influência no próximo governo, com Elmano de Freitas no comando, que conta com o prestígio do próximo titular do MEC, que levou Izolda na garupa da sela. Nada menos que três das mais relevantes secretarias, além da presidência da Assembleia. Essa é a cota do butim, a que os Gomes acham que tem direito.

Cid Gomes, com carreira meteórica de menino prodígio, desde quando presidiu a Assembleia, governou Sobral e o Ceará por duas vezes, sempre contou com muito poder e um monte de lacaios. “Mal acostumado, você me deixou mal acostumado”. O refrão do Araketu reverbera nos ouvidos de quem não se acostumou com o fundo de quintal. A abstinência antecipada de poder gera enxaqueca para si e dor de cabeça para os antigos aliados.

O sonho de uma noite de verão sobralense se esvaiu com a vitória em primeiro turno de Elmano. El Cid contava que a disputa fosse ao segundo turno para ele aparecer em seu cavalo branco, como o pacificador das correntes petistas e pedetistas com o fim de vencer o dragão da maldade, personificado pelos capitães daqui e dacolá. Para não fustigar o irmão mais velho, Cid Gomes apoiava o mano, mas não hostilizava nem pedia votos para Roberto Cláudio, o candidato de seu partido.

Com a estrondosa derrota de Ciro, que descambou para o quarto lugar e amargou pífio desempenho até entre seus conterrâneos, Cid Gomes sentiu falta de chão, mesmo na cumeeira da Serra da Meruoca. Tentou se desvencilhar dos arreios e da canga que o primogênito lhe impusera, entoando louvores a Lula, a Camilo e a Elmano. Responsável pela ascensão política de Santana, Cid Gomes cobra de seu ex-secretário a moeda que ele negou aos demais: gratidão.

A demanda de Cid pode ser considerada exigência de carguinhos, para usar a expressão de Ciro quando chamou Santana de Judas, mas é das mais relevantes no cenário estadual. Quer para si, com a indicação de aliados, a Secretaria da Cidade, talvez a de maior importância administrativa, tanto pelo orçamento como pela interação com as prefeituras, que capilariza a influência em todo o Estado. E ainda desaloja o desafeto, que já foi aliado do peito, hoje no rol de traidores, deputado Zezinho Albuquerque (PP).

Outra secretaria, até então não tão vistosa, é a do Desenvolvimento Econômico. Mas vai cuidar do hidrogênio verde, para o qual Camilo Santana muito investiu. Vira ouro nos tempos em que pontifica a descarbonização do planeta. Quer ainda o Porto do Pecém. Já é de grande importância, mas vai triplicar sua relevância com a instalação da refinaria e todo o cluster de indústrias que prosperam em simbiose a seu redor.

Por fim, a cereja do bolo, no teatro eminentemente político, a presidência da Assembleia Legislativa. Os Gomes querem não apenas a demonstração de poder, com o exercício da presidência, mas também esmagar quem não se rendeu a seus caprichos. O deputado Evandro Leitão, ao lado de Zezinho Albuquerque, também lhe contrariou. Segundo suas normas de antigo imperador cearense, que se ombreia à prática dos mafiosos, precisa ser punido.

Elmano de Freitas ainda não está afeito a essas jogadas, como os lances de agora efetuados por Cid. O exímio jogador de pôquer é o que joga bem até com uma mão ruim, é o que sabe blefar, sem revelar suas fraquezas. Elmano, o grande vitorioso, pode cantar de galo, pois faz parte da tríplice coroa do PT no Ceará. Pode dar um chega pra lá em que não lhe prestou apoio na campanha, mas cede ao bom-mocismo de Camilo.

Ciro disse que sofreu uma facada dos irmãos, quando se sentiu traído. Agora Cid desfere outra facada no Elmano. Desta vez, com o sentido de extorsão, exploração. Alguém precisa dizer aos Gomes, e a Cid em particular, que eles dançaram. E não tem mais essa de volta que eu perdoo a facada, que eu retiro a queixa. Elmano poderia parafrasear o pagode: “Só pra contrariar, eu não vou dar a Assembleia”. Os petistas, há muito, apenas toleram Cid Gomes (O Lula tá preso, babaca!). E já não disfarçam a euforia com o ocaso dos Gomes. “Não dá para esconder o que sinto por você, Ará. Não dá, não dá. ”

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