Os contrastes da Princesa do Norte

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Sobral é conhecida por ser uma “cidade universitária” com muitos casarões históricos tombados, muitas casas e mansões. Mas no Centro do município é possível encontrar diversos moradores de rua, que vivem em situação precária, sem oportunidades e sem ter onde morar.

Dando uma volta pela ruas de Sobral, encontrei na margem esquerda do rio Acaraú uma moradora de rua que estava embaixo de uma pequena ponte de pedestre feita naquela área de lazer.

Esta senhora de 46 anos, de pés muito sujos, roupas maltrapilhas e aspecto de pouco higiene chamada de”Maria”, como a mãe de Jesus, é apenas uma personagem da triste realidade que vivem os moradores de rua da cidade.

Passarela de pedestres na margem esquerda do Rio Acaraú, em Sobral – Foto: Reprodução

Quando a encontrei, Maria estava no seu momento de descanso de uma vida sofrida e incerta onde todos os dias, noites e madrugadas precisa perambular pelas ruas e avenidas da cidade em busca de garantir a sobrevivência

A situação em que ela vive, é a mesma situação de muitas outras pessoas que, de alguma forma, perderam tudo o que tinham. São pessoas esquecidas e abandonadas pelo poder público.

Na belíssima Princesa do Norte, Sobral, estes contrastes tão comuns são escondidos pela maquiagem que as propagandas políticas fazem do município.

Mas não é difícil de encontrá-los. Eles estão espalhados por toda cidade, seja debaixo do viaduto da Igreja do São Francisco, na praça de Cuba a noite, nos semáforos ou amontoados nas antigas instalações do restaurante popular.

Em uma conversa rápida com dona Maria ouve-se o desejo e a vontade de sair da situação em que se encontra expressa numa voz triste e arrastada, ditas por uma senhora que, embora tenha um olhar marcado pela melancolia da vida, ainda carrega a esperança de dias melhores.

Dona Maria fala ainda das muitas pessoas que tem suas casas luxuosas e não valorizam como uma versão real de um antigo samba que diz que tem gente que vive chorando de barriga cheia.

Os sonhos de dona Maria são poucos, mas ainda existem. Ela diz que não quer muito, só um pouco de dignidade, mal sabendo que o que ela pede como uma súplica deveria ser lhe garantida por direito, se as leis não fossem apenas papéis escritos e o prefeito e seus secretários realmente se preocupassem com o povo em situação de rua.

Ela fala ainda que vivemos num país rico, muito rico, e que se houvesse uma oportunidade de dar a volta por cima, seguraria a tal oportunidade e não a soltaria mais.

A cidade universitária ainda não aprendeu a olhar para os menos favorecidos da forma que eles merecem e nem conseguiu desenvolver políticas públicas voltadas para este segmento social.

Enquanto isso…

Assim vive dona Maria, como muitos outros.

Não vivem. Sobrevivem.

Fonte: Nildo Nascimento

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