Beber água pode retardar o envelhecimento, diz estudo

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Além de impedir que o corpo seja biologicamente mais velho do que sua idade cronológica, a pesquisa mostra que a ingestão saudável de líquidos evita doenças crônicas e morte precoce

Você provavelmente já sabe que estar hidratado é importante para as funções corporais do dia a dia, como regular a temperatura e manter a saúde da pele.

Beber água em doses saudáveis também reduz significativamente o risco de desenvolver doenças crônicas, de ter uma morte precoce ou de ser biologicamente mais velho do que sua idade cronológica, de acordo com um estudo do National Institutes of Health dos Estados Unidos publicado na revista “eBioMedicine”.

“Os resultados sugerem que a hidratação adequada pode retardar o envelhecimento e prolongar uma vida livre de doenças”, disse Natalia Dmitrieva, autora do estudo e pesquisadora do Laboratório de Medicina Regenerativa Cardiovascular do Instituto Nacional de Coração, Pulmão e Sangue, uma divisão do NIH, em um comunicado.

Saber quais medidas preventivas podem retardar o processo de envelhecimento é “um grande desafio da medicina preventiva”, lembraram os autores no estudo. É que uma epidemia de “doenças crônicas relacionadas à idade” está emergindo à medida que a população mundial envelhece rapidamente.

Os autores explicaram que a hidratação ideal pode retardar o processo de envelhecimento tendo como base pesquisas feitas em camundongos. Nesses estudos, a restrição de água ao longo da vida aumentou o sódio sérico de camundongos em 5 milimoles por litro e reduziu a vida útil deles em seis meses, o que equivale a cerca de 15 anos de vida humana, de acordo com o novo estudo. O sódio sérico pode ser medido no sangue e aumenta quando bebemos menos líquidos.

Outra pesquisa, feita com humanos, usou dados de saúde coletados ao longo de 30 anos de 11.255 adultos negros e brancos que fizeram parte do estudo Risco de Aterosclerose em Comunidades (no original, Atherosclerosis Risk in Communities, ou ARIC) e chegou a resultados semelhantes.

O estudo encontrou adultos com níveis séricos de sódio na extremidade mais alta da faixa normal – que é de 135 a 146 miliequivalentes por litro (mEq/L) –com saúde mais abalada do que a de indivíduos na extremidade inferior da faixa.

A coleta de dados começou em 1987, quando os participantes estavam na casa dos 40 ou 50 anos. A idade média dos participantes na avaliação final durante o período do estudo foi de 76 anos.

Adultos com níveis acima de 142 mEq/L tiveram uma chance de 10% a 15% maior de serem biologicamente mais velhos do que sua idade cronológica, em comparação com os participantes da faixa de 137 a 142 mEq/L.

Os participantes com maior risco de envelhecimento rápido também apresentaram uma probabilidade 64% maior para o desenvolvimento de doenças crônicas como insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral, fibrilação atrial, doença arterial periférica, doença pulmonar crônica, diabetes e demência.

Essas pessoas com níveis acima de 144 mEq/L, ou seja, a faixa mais alta, também tinham 50% mais chances de serem biologicamente mais velhas e um risco 21% maior de morte precoce.

Adultos com níveis séricos de sódio entre 138 e 140 mEq/L, por outro lado, apresentaram o menor risco de desenvolver doença crônica. O estudo não tinha informações sobre a quantidade de água que era ingerida pelos participantes.

“O estudo adiciona evidências observacionais sobre os potenciais benefícios a longo prazo da boa hidratação em reduções nos resultados de saúde a longo prazo, incluindo a mortalidade”, disse Howard Sesso, professor associado de medicina na Harvard Medical School e epidemiologista associado no Brigham and Women’s Hospital em Boston. Sesso não participou do estudo.

No entanto, acrescentou ele, “teria sido bom combinar a definição de hidratação, com base apenas nos níveis séricos de sódio, com dados reais de ingestão de líquidos da coorte do estudo ARIC”.

A idade biológica foi determinada por biomarcadores que medem o desempenho de diferentes sistemas e processos de órgãos, incluindo biomarcadores cardiovasculares, renais, respiratórios, metabólicos, imunológicos e inflamatórios.

Os altos níveis séricos de sódio não foram o único fator associado a doenças crônicas, morte precoce e risco de envelhecimento mais rápido: o risco também foi maior entre as pessoas com níveis séricos de sódio muito baixos.

O achado é consistente com relatos anteriores de aumento da mortalidade e doença cardiovascular em pessoas com baixos níveis regulares de sódio, o que tem sido atribuído a doenças que causam problemas eletrolíticos, disseram os autores.

O estudo analisou os participantes durante um longo período, mas os achados não comprovam uma relação causal entre os níveis séricos de sódio e os resultados de saúde, disseram os autores. Eles acrescentaram que outros estudos são necessários, mas os achados já podem ajudar os médicos a identificar e orientar os pacientes em risco.

“Pessoas cujo sódio sérico é de 142 mEq/L ou superior teriam um benefício importante se tivessem sua ingestão de líquidos devidamente avaliada”, opinou Dmitrieva.

Sesso observou que o estudo não abordou fortemente o envelhecimento acelerado, “que é um conceito complicado que estamos apenas começando a entender”.

“Duas razões principais estão na base disso”, afirmou Sesso. Os autores do estudo “basearam-se em uma combinação de 15 medidas para o envelhecimento acelerado, mas essa é uma das muitas definições para as quais não há consenso. Segundo, os dados sobre hidratação e envelhecimento acelerado foram um retrato do momento, então não temos como entender causa e efeito”.

Cerca de metade das população mundial não atende às recomendações para o consumo diário de água, de acordo com vários estudos citados pelos autores da nova pesquisa.

“No nível global, isso pode ter um grande impacto”, escreveu Dmitrieva.

“A diminuição do teor de água corporal é o fator mais comum que aumenta o sódio sérico, razão pela qual os resultados sugerem que manter-se bem hidratado pode retardar o processo de envelhecimento e prevenir ou retardar doenças crônicas”.

Nossos níveis séricos de sódio são influenciados pela ingestão de água, de outros líquidos e de frutas, legumes e verduras com alto teor de água.

“A descoberta mais impressionante é que esse risco (para doenças crônicas e envelhecimento) é aparente mesmo em indivíduos que têm níveis séricos de sódio que estão na extremidade superior da faixa normal”, apontou Richard Johnson, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Colorado. Johnson não fez parte do estudo.

“É um ponto que questiona o que é normal e apoia o conceito de que, como população, provavelmente não estamos bebendo água suficiente”.

Mais de 50% do corpo humano é composto de água, que também é necessária para múltiplas funções, incluindo digestão de alimentos, criação de hormônios e neurotransmissores e entrega de oxigênio em todo o organismo, de acordo com a Cleveland Clinic.

A National Academy of Medicine dos EUA recomenda que as mulheres consumam 2,7 litros de líquidos diariamente, e que os homens bebam 3,7 litros por dia. A recomendação inclui todos os líquidos e alimentos ricos em água, como frutas, legumes e sopas.

Como a proporção média de ingestão de água de fluidos para alimentos é de cerca de 80:20, isso equivale a uma quantidade diária de 9 xícaras de líquidos para mulheres e 12,5 xícaras para homens.

Pessoas com doenças crônicas devem conversar com o médico sobre a quantidade de ingestão de líquidos adequada.

“O objetivo é garantir que os pacientes estejam tomando líquidos suficientes e ao mesmo tempo avaliar fatores, como medicamentos, que podem levar à perda de líquidos”, disse o coautor do estudo, Manfred Boehm, diretor do Laboratório de Medicina Regenerativa Cardiovascular.

“O médico também pode precisar mudar o plano de tratamento atual de um paciente, como limitar a ingestão de líquidos para insuficiência cardíaca”.

Para se manter adequadamente hidratado, inclua alguns hábitos em sua rotina. Tente deixar um copo de água à beira da cama para beber quando acordar ou beba água enquanto prepara o café da manhã.

Outro conselho é colocar uma garrafa de água em um local em que você passa várias vezes ao dia, conforme indicou o especialista em ciência comportamental B.J. Fogg, fundador e diretor do Laboratório de Design de Comportamento da Universidade de Stanford.

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