Intubado por 99 dias, cearense reaprende a correr; ‘chamaram 3 vezes minha família pra se despedir’

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“Eu fui lá em cima e disse: aqui não vou ficar não, vou voltar”. Essa é a história de um cearense teimoso que reaprendeu a viver após 126 dias hospitalizado – sendo 99 deles intubado e 92 em coma induzido -, por um diagnóstico positivo de Covid-19. Desenganado, chegaram a chamar a esposa e o filho em três ocasiões para dar o último beijo de despedida.

É também uma história de persistência. A dele, em viver. A dos parentes, em manter as orações esperançosas mesmo num cenário desolador. E de profissionais da saúde que não desistiram de tentar fazê-lo acordar recuperado da doença.

O caminho de angústias começou em 15 de novembro de 2020, data do primeiro turno das eleições municipais, naquele ano adiada pela primeira onda da pandemia. Humberto Vieira, de 65 anos, votou normalmente em Fortaleza, já com uma moleza no corpo. Preocupado, decidiu fazer um exame.

Naquele primeiro momento, foi informado da infecção e de 25% de comprometimento dos pulmões. Mas voltou para casa, certo de que a doença regrediria em breve, já que não apresentava sintomas de alarme. Três dias depois, na quarta (18), novo exame constatou o triplo do problema: tinha 75% dos pulmões prejudicados.

O gerente de projetos ligou para a médica e foi orientado imediatamente a buscar um hospital privado.

“Fui com meu filho e até disse: ‘fique aqui me esperando que já eu volto’. Mas não voltei mais”, conta.
Humberto foi internado e passou três dias no quarto, trabalhando e participando de reuniões on-line. Então, outro médico informou-lhe que sua saturação de oxigênio estava em 88% – quando o normal para uma pessoa saudável é 95%. Um tratamento mais severo seria necessário.

Sugeriram colocá-lo no capacete Elmo, que ajudou a salvar centenas de vidas no Ceará, mas o homem temia a claustrofobia. A alternativa foi uma máscara de ventilação não-invasiva (VNI), para ajudar na respiração.

Algum tempo depois, recebeu a notícia que o fez chorar: precisariam intubá-lo. Naquele momento, se deu conta de que poderia nunca mais rever a esposa, Luziana, ou o filho, Bruno. Com sedativos na corrente sanguínea, apagou-se do mundo por três meses.

RENASCE O ATLETA
O homem não gosta e nem quer depender de ninguém, por isso botou na cabeça que queria voltar a correr e pedalar na Avenida Beira-Mar. Os tropeços em casa seriam postos à prova no asfalto e no calçamento.

Ele até improvisou um triciclo, mas percebeu que o veículo também ficava inconstante. Preferia a bicicleta de duas rodas, e o filho se voluntariou para acompanhá-lo, em maio de 2021. Paramentou o pai com capacete, cotoveleiras e joelheiras. Todo cuidado era pouco.

“Ele tava morrendo de medo. Fui tentando, tentando, quase caía. Aí, quando consegui, disse para ele se afastar de mim. Fui embora”.
Naquele momento, ao contrário da tristeza do dia da intubação, seus olhos se encheram de lágrimas – desta vez, de alegria. Estava vivo.

Fonte- Diário do Nordeste

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