Ceará tem municípios sem mortes violentas

Compartilhe

Antonina do Norte, Baixio e Granjeiro estão com 730 dias sem registrar morte violenta.

A realidade de quem reside em Antonina do Norte, Baixio e Granjeiro, todos municípios do Interior do Ceará, é marcada pela tranquilidade em decorrência da ‘sensação de segurança’, oposta àquela dos que estão nas metrópoles.

Em 2021 e 2022, não aconteceram Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs), que englobam homicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte, nessas três cidades. A lista aumenta quando analisado apenas o ano passado. De acordo com a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), em 2022 foram 10 municípios cearenses que não registraram nenhum CVLI.

Em contrapartida, Fortaleza e Região Metropolitana somam quase 50% dos assassinatos contabilizados no Ceará, nos últimos anos. Os números refletem realidades opostas. Paira sob as cidades pacatas uma rotina que lembra a vivida no fim da década de 1980. Moradores da Capital e arredores têm o dia a dia envolto de crimes violentos atrelados a ‘sede de vingança’ devido à disputa entre facções rivais e o tráfico de drogas.

“AQUI TODO MUNDO SE CONHECE”
Das três cidades sem mortes nos últimos dois anos, a com mais habitantes é Antonina do Norte (com média de 7.300, segundo o IBGE). Antonina se tornou município em 1958, quando desmembrado de Aiuaba. Até hoje, no local persiste a religiosidade católica na cidade localizada na região Cariri Oeste, com ligação íntima à devoção de Santo Antônio.

Granjeiro e Baixio são ainda menores, com cerca de cinco mil e seis mil moradores, respectivamente.
Granjeiro pertence à Mesorregião do Sul Cearense, à Microrregião de Caririaçu e à Região Metropolitana do Cariri. Também já esteve na condição de distrito, antes de ser município. Lá, os moradores se consideram como “povo batalhador” e hospitaleiros, como citado no hino da cidade que tem como padroeira Nossa Senhora da Imaculada Conceição.

Baixio fica em outra região do Ceará, próximo à Lavras da Mangabeira, mesorregião do Centro-Sul. O nome vem devido aos acidentes geográficos nos arredores de 147 km², área total da cidade, equivalente a menos da metade do tamanho de Fortaleza.

“É preciso considerar o contexto social e comunitário vivido pelas pessoas que residem nas ‘cidades mais seguras’. É necessário ainda pensar nos contextos das regiões e saber como os moradores criaram ou não uma rede de proteção social, envolvendo políticas públicas das instâncias estaduais e municipais. Mais do que explicações sobre esse fenômeno, existem perguntas sobre essas realidades para saber como os moradores dessas cidades evitaram situações de violência, inclusive interpessoal, que causam homicídios em outras cidades com estruturas sociais semelhantes”, disse o estudioso.

Laurima Ribeiro, 48, mora em Baixio desde que nasceu. Ela fala não ser “coincidência” que há dois anos a cidade não registra mortes violentas, e sim resultado de uma rotina onde “todo mundo se conhece” e se respeita.

“A cidade é tranquila mesmo, poucos habitantes, pacata. Aqui todo mundo se conhece, é como se fossem todos da mesma família. Quando acontece um assalto a um comércio, por exemplo, é um assaltante que veio de outro lugar. As famílias ficam todas nas calçadas à noite, sem preocupação com que horas tem que entrar”, disse Laurima.

“Os adolescentes andam de bicicleta tranquilamente. Sabemos que existem usuários de drogas por aqui, mas aparentemente não traficam”
LAURIMA RIBEIRO
Agente administrativa, moradora de Baixio

CASOS ISOLADOS
Paulo Rodrigues Brito, 34, é de Antonina do Norte. Ele destaca o trabalho da Polícia e da Ronda Ostensiva Municipal que “se mostra presente e ajuda na sensação de segurança”. De acordo com Paulo, outros crimes, como furtos, assaltos e tráfico de drogas, são pouco noticiados “não passando de casos isolados”.

“Antonina é uma cidade de pequeno porte, mas que tem muitas festas. Tudo dentro da tranquilidade. Por aqui, ainda podemos sair em qualquer horário do dia ou da noite e chegamos em casa com segurança. Nosso povo é de bem e isso contribui muito”, disse Paulo.

Já Lívia (nome fictício) trabalha em uma farmácia na cidade de Granjeiro e mora na cidade há 28 anos. Ela admite que se sente segura na localidade, mas diz que nem sempre foi assim: “já teve muita morte por aqui, hoje está mais tranquilo. Agora, não sabemos de mortes e é raro ver qualquer outro crime aqui. Dificilmente tem roubo, assalto. Aqui o pessoal gosta de ficar na calçada, não tem medo de ficar conversando na rua”.

Uma das mortes de maior repercussão em Granjeiro foi a do prefeito da cidade, em 2019. Na véspera do natal, João Gregório Neto, o ‘João do Povo’, caminhava na região, quando foi assassinado a tiros. A investigação apontou que o crime teve motivação política.

Entre os réus pela morte de ‘João do Povo’ estão o ex-vice prefeito, Ticiano da Fonseca Félix, o ‘Ticiano Tomé’, que viria a assumir a Prefeitura Municipal de Granjeiro após o homicídio; o pai dele, Vicente Félix de Sousa, o ‘Vicente Tomé’ (que também foi prefeito do Município); e o tio, José Plácido da Cunha.

REDUÇÃO DAS MORTES
A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) ressalta que o Ceará fechou o ano de 2022 com redução de 10% nos CVLIs, em comparação a 2021: “entre os territórios, a maior queda foi na Região Metropolitana da Capital, com -14,3%, com 778 CVLIs contra 908”.

Fonte- Diário do Nordeste

Você pode gostar...

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Skip to content