RETROVISOR

Vini Jr. foi atacado por parte da torcida do Valencia ISABEL INFANTES/REUTERS
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O racismo segue vencendo no futebol

Os episódios ocorridos em Valência na derrota do Real Madrid para os donos da casa pela 35ª rodada do Campeonato Espanhol, que determinaram a conquista do título pelo Barcelona, mostraram ao Mundo o quanto é necessário repensar certos eventos em algumas modalidades esportivas, em especial o futebol. Esporte surgido na aristocracia inglesa e que em mais de cem anos se tornou popular em muitas das nações mais pobres do Planeta, o soccer parece ter absorvido algumas das características mais nocivas e inimagináveis em plena segunda década do Século XXI.

Hostilidade e confusão

A vítima da vez, por sinal, é recorrente: Vinicius Júnior, ou Vini Jr, ídolo do Real e um dos destaques da seleção brasileira na Copa do Catar. Vini, que, por toda a temporada e sempre que atuou longe de Madrid, já entrava em campo na expectativa de que o pior pudesse acontecer, foi mais uma vez hostilizado por indivíduos presentes ao Estádio de Mestalla aos gritos de “Macaco”, uma referência racista infelizmente ainda comum nas praças esportivas. O pior é que, mesmo apontando claramente um dos agressores, nada foi feito pela arbitragem e, apesar da paralisação, a partida foi retomada e, após uma confusão, acabou expulso. Dupla punição.

O estranho posicionamento da Liga

O mais incrível de toda essa história é perceber que, a despeito de tudo o que as câmeras registraram na Espanha por toda a temporada, e, em especial, no jogo de domingo, o presidente da Liga Espanhola respondeu ao atleta com desdém através de uma rede social e afirmou que o mesmo exagera nas acusações de negligência. Exagero nada, uma omissão sem precedentes da Liga que assume claramente esse papel à medida que transfere às arquibancadas a culpa pelo que acontece. Ora, a massa não tem controle mas a Liga tem poder de adotar medidas enérgicas para coibir qualquer tipo de violência e tanto é que, ao se dar conta da forte repercussão negativa, Javier Tebas se desculpou e pediu perdão ao craque brasileiro. No entanto, o episódio pede mais que isso.

Você sabia?

Cuca foi anunciado como treinador do Corinthians no final de abril e menos de uma semana depois, com apenas dois jogos no comando do time paulista, anunciou sua saída em comum acordo com o clube. O motivo teria sido a onda de protestos por torcedores e atletas do time feminino após se tornar pública uma condenação sofrida por ele e mais três atletas do Grêmio na Suiça, em 1989, quando ficaram um mês presos até obterem liberdade provisória e retornarem ao Brasil. Contudo, chama atenção o fato de que, dias após a pressão pela saída de Cuca, torcedores corintianos entoaram cantos homofóbicos nas arquibancadas no Clássico contra o São Paulo, dirigidos aos atletas e torcedores tricolores, o que levou à paralisação do jogo e sinalização pelos telões do estádio de que se tratava de uma prática criminosa. O exemplo é bom, mas deve partir de dentro de casa.

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