Câncer na face: projeto de próteses 3D recupera autoestima de pacientes

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Pacientes oncológicos que tiveram pedaços da face removidos no tratamento estão recebendo implantes de graça em hospital de Curitiba.

Em setembro de 2020, Clemilda Caetano dos Santos teve grande parte do nariz removido durante um tratamento contra um câncer na face. Por vergonha, a mulher de 82 anos evitou ter contato com quaisquer pessoas que não fossem familiares próximos durante a cicatrização. “Não queria que me vissem sem nariz, só depois de um tempo comecei a sair de casa tranquila”, conta.

O alívio para a dona de casa veio três meses após a cirurgia. Em dezembro daquele ano, Clemilda recebeu uma prótese doada pelo Hospital Angelina Caron (HAC), do Paraná. “Quando soube que iria receber antes do Natal, fiquei muito alegre, foi uma felicidade incrível”, lembra a aposentada. No entanto, o caso de Clemilda não é a regra: muitos pacientes oncológicos têm de esperar por anos para receber implantes, mesmo que eles sejam instrumentos essenciais para recuperar a autoestima deles.

Segundo a dentista Karin Barczyszy, responsável por fazer as próteses no hospital de Curitiba, não é raro encontrar pacientes que fizeram retiradas de tumores na face há cinco anos e ainda estão pleiteando próteses. “São pessoas com muita dificuldade de viver com naturalidade, elas não saem de casa, não tiram fotos”, conta Karin, que é especialista em prótese bucomaxilofacial pela USP e em oncologia multiprofissional.

“Muita gente me diz que nunca conheceu alguém que precisa de uma prótese facial e justamente o que explica isso é essa vergonha que os pacientes têm”, afirma Karin.
Embora o HAC seja particular, 90% dos pacientes atendidos são do SUS e não poderiam pagar pelas próteses. Pensando nesta dificuldade, o hospital desenvolveu um projeto de doação de próteses faciais gratuitas para os pacientes.

Lá são feitas próteses de olho, nariz, orelha, céu da boca e outras partes da face. O projeto foi premiado em novembro do ano passado no Congresso da Sociedade Latino-Americana de Reabilitação Bucomaxilofacial.

As próteses são dadas gratuitamente já que muitos pacientes não podem arcar com os custos envolvidos em fabricá-las. “Eu e meus irmãos chegamos a nos juntar para tentar comprar uma prótese, mas era muito caro, mais de 5 mil reais. Imagina a nossa surpresa quando soubemos que o hospital ia dar uma para minha mãe”, diz a filha de Clemilda, Ivone Luis Guimarães, de 59 anos.

As próteses preparadas pelo hospital são impressas em 3D por alunos da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Posteriormente, elas são cobertas de silicone e pintadas manualmente por Karin para se adaptar melhor ao rosto dos pacientes. São feitas de acordo com as medidas da face deles e também com modelos disponíveis para que eles provem.

“Não pensava antes em trabalhar com isso, mas fui desafiada a fazer as próteses e quis me aperfeiçoar. Foi transformador para a minha vida entender a diferença que meu trabalho faz na vida de outras pessoas. Sinto que os ajudei e também aprendi muito sobre mim e o que, de fato, é importante cultivar no mundo”, diz Karin.

Normalmente, é preciso esperar o processo de cicatrização da pele ao redor do local onde ocorreu a retirada pois a prótese é colada com uma cola especial e precisa de uma pele saudável e resistente para recebê-la. A única exceção são os pacientes que tiveram o céu da boca retirado, esses recebem a prótese já durante a cirurgia de retirada do câncer, pois a ausência desta parte do corpo os impede de se alimentar e de falar normalmente.

Fonte: Metrópoles/Chico Nildo

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